quinta-feira, 27 de junho de 2019

Café Royal CXXX


Superávit

Benjamin Franklin dizia que “para não seres esquecido depois da morte, escreve algo que mereça ser lido ou faz algo que mereça ser escrito.” Actualmente, poucos são os que se importam com o legado que deixam das suas vidas. Perpassa-nos a impressão de que tudo está gravado na pedra-pomes das redes sociais e que essa vaga e electrónica impressão digital se eternizará na nuvem do algoritmo. Pode parecer inadequado misturar os pequenos políticos de hoje em dia com esta ideia maior de um devir histórico universal, tão emaranhados eles estão nas fugazes manchetes e nas politiquices do dia-à-dia. Porém, a política não devia ser outra coisa que não fosse a permanente ambição de uma sociedade melhor, mais próspera e mais justa. E esse deveria ser o legado dos grandes políticos. A História, aquela que se constrói para lá dos idióticos mestrados e doutoramentos tirados com minudencias estatísticas, faz-se dos feitos dos homens e das suas grandes acções, que tornam a Humanidade, e o nosso Mundo, em algo maior. E não com o Superávit ou outras artimanhas contabilísticas. O único ministro das finanças que ficou para a História foi Salazar e não foi pelas melhores razões…


quinta-feira, 20 de junho de 2019

Café Royal CXXIX


O bodo

Quando se fala em Orçamento de Estado é frequente ouvir falar em “mesa” e “bolo”. Como se o Orçamento fosse uma espécie de banquete. Só que, quem se anda a lambuzar com o repasto não são os cidadãos comuns, pagadores de impostos, a quem o Estado devia garantir meia dúzia de coisas básicas. Desde logo, diz a Constituição, o direito à Saúde, “através de um serviço nacional de saúde universal e, (…) tendencialmente gratuito.” Ora, se imaginarmos que à cabeça da “mesa” do Orçamento se senta o Governo, manda o protocolo que à direita se sente a Educação e à Esquerda a Saúde e deviam ser esses, os “convidados de honra”, a receber a maior fatia do “bolo”. Mas, neste país, nos últimos anos, nessa verdadeira última ceia em que se transformou o Orçamento de Estado, quem se anda a empanturrar, são os Judas da Dívida, os agiotas da Banca e outros Berardos do género. Portugal investe na Saúde cerca de 1600€ por cada cidadão. Resgatar os Bancos custou a cada um de nós 1800€! É como aquelas galas, servidas a lagosta e champanhe, em que os abastados juntam uns cêntimos para oferecerem aos pobres uns míseros pacotes de macarrão…


quinta-feira, 13 de junho de 2019

Café Royal CXXVIII


O peso da data

Por mágica conjugação de calendário, calhou este ano, o 10 de Junho e o “dia da pombinha” serem na mesma data. Esta segunda-feira, Portalegre e a Calheta de São Jorge tornaram-se o centro simbólico da portugalidade e da Autonomia. Ao contrário de outras nações, que assinalam os seus dias em datas importantes da sua história (a Tomada da Bastilha, o dia da Independência ou o grito do Ipiranga) e que, por isso, estão profundamente enraizados na cultura do seu povo, Portugal e os Açores, celebram-se em datas que foram escolhidas a dedo, em gabinetes fechados, procurando incutir artificialmente num caso, e usurpar ao povo noutro, uma sensação de verdadeira pertença à comunidade. O facto é que, 45 anos depois, o 10 de Junho nunca se conseguiu libertar do dia da raça salazarento que sempre foi, por mais discursos de Facebook que se façam. E, a estatização da mais popular das festas açorianas, o Espírito Santo, significa um desvirtuar e uma politização incompreensível do que de mais genuíno tem o povo destas ilhas. Ora, é precisamente este artificialismo que afastará sempre o cidadão comum destas celebrações. Ao povo o que é do povo, e ao Estado o que dele tiver de ser…


quinta-feira, 6 de junho de 2019

Café Royal CXXVII


O Rei Sol

Numa frase em inglês, no seu melhor estilo de pitonisa mediática, como quem prevê o futuro, mais do que analisa o passado, Marcelo Rebelo de Sousa, prognosticou, para os próximos anos, uma debacle na Direita em Portugal. O comentário do professor diz mais sobre a sua personalidade do que propriamente sobre a crise de PSD e CDS, ou, se quisermos, sobre o estado do regime, como logo se apressou a tentar corrigir Rui Rio. Marcelo construiu, neste seu primeiro mandato como Presidente da República, a imagem do presidente próximo das pessoas, constantemente presente, uma espécie de Conversas em Família, do seu famigerado homónimo, em formato selfie-stick, ultrapassando, muitas vezes, o limite da exaustão. Num regime em que os poderes presidenciais são reduzidos, essa forma omnipresente de desempenhar o cargo transforma-o num interveniente activo do teatro político e Marcelo fá-lo propositadamente. A opinião presidencial torna-se, ela própria, condicionante da luta político-partidária. Ao vaticinar uma crise na Direita, Marcelo mais não faz do que afirmar – a Direita sou eu! – qual Luís XIV, ambicionando tornar-se no Rei Sol da República e, en passant, transformando-nos, a todos, em bananas.