quinta-feira, 25 de julho de 2019

Café Royal CXXXIV


Boris

Talvez seja da cor do cabelo, ou do ar bonacheirão, ou da tendência, de ambos, para o disparate, embora num o absurdo seja fingido e no outro feitio. Mas, são comuns as comparações entre Boris Johnson e Donald Trump. Um pouco por todo o lado, da comunicação social às redes sociais, principalmente à esquerda, há uma tendência generalizada para colocar Boris e Trump no mesmo saco político, ideológico e, mais grave, comportamental. Esta simplificação exagerada é um enorme erro, de análise e de prospectiva. Trump é filho de um promotor imobiliário e de uma dona de casa, com uma carreira académica banal que se transformou num magnata nos anos 80 através da especulação e manipulação dos media. Ao contrário, Boris é filho de dois académicos da upper-class britânica, educado em Eton e Oxford, com uma sólida carreira académica, jornalística (foi editor da Spectator) e política. Trump foi eleito muito por obra do maquiavélico Steve Bannon. Boris é o seu próprio Bannon. Trump é um palhaço político, Boris faz-se de palhaço, ao melhor estilo do diletantismo inglês, para fazer política. São coisas diametralmente opostas. Embora sejam ambas igualmente perigosas…


quinta-feira, 18 de julho de 2019

Café Royal CXXXIII


(in)Cultura

Não são usuais as visitas de ministros aos Açores. Ministros da Cultura, então, muito menos, tão poucos que foram na nossa curta democracia. Também por isso, a escapadinha da ministra Graça Fonseca a São Miguel, no passado fim-de-semana, poderia ter sido um momento importante para o reconhecimento da Cultura que se faz nos Açores. Infelizmente, não foi isso que sucedeu. Entrelaçada na teia do Walk & Talk, a visita de Graça Fonseca aos Açores fez-se em circuito fechado, com fugazes desvios ao Arquipélago e ao alto da Torre Sineira da Câmara de Ponta Delgada. Mas o pior foi a ridícula declaração da Ministra ao dizer que já tinha visitado várias galerias e espaços culturais “que não existiam” antes do referido festival. A verdade, Sra. ministra, é que é precisamente o contrário. Por maiores que sejam os méritos do Walk & Talk, e são muitos, a realidade é que o festival só existe por causa da existência e resistência de um sem número de artistas, espaços, galerias, livreiros, etc., etc., que lutam todos os dias e há muitas décadas para fazer, e dar a apreciar, Cultura nos Açores. Mas, já estamos todos habituados às gaffes desta ministra quando sai de Lisboa…


quinta-feira, 11 de julho de 2019

Café Royal CXXXII


Racismo de classe

Portugal não é, nunca foi, racista. A maior prova desse não-racismo nacional é a miscigenação. Ao contrário de outros povos, a disseminação dos portugueses pelo mundo fez-se pela comunhão intelectual, social e sexual entre raças, povos e culturas. Portugal foi o primeiro país a abolir a escravatura. E, como já alguém disse, em tom libidinoso, a maior dádiva de Portugal ao mundo foi a mulata… Vêm isto a propósito da discussão em torno de um texto lastimável de Maria de Fátima Bonifácio, no jornal Público, sobre raças, culturas, civilizações e, pasme-se, “cristandade”. O mal que afecta o espírito nacional não é o racismo, é o classismo. Portugal é, ainda, um país contaminado pelos resquícios do feudalismo e do Estado Novo, que se enoja com a pobreza, mas não a combate e de “senhoras” e criadagem separadas por vestíbulos obscuros. Só que hoje, nos bairros chiques de Lisboa, as criadas são todas negras. Não vale a pena rebater o discurso racista, mas convém lembrar que, como diz o slogan das campanhas contra as alterações climáticas: “Não há Planeta B” e vivemos todos neste planeta, brancos, negros, vermelhos, amarelos, e a Sra. Bonifácio também…


quinta-feira, 4 de julho de 2019

Café Royal CXXXI


7 Mortes

Um amigo meu, intelectualmente socialista, dizia em tom jocoso, referindo-se a Alexandre Gaudêncio, logo após o episódio Mota Amaral, que o jovem líder do PPD Açores e Presidente de Câmara da Ribeira Grande não tinha sequer chegado à “recta dos Fenais”, tinha-se estatelado na rotunda de Rabo de Peixe. De facto, a tentativa de Gaudêncio se afirmar como líder do principal partido da oposição e candidato a alternativa a Vasco Cordeiro ficará na história como a mais trágica e inábil de todos os líderes do PSD-A, e já lá vão muitos. Tudo ia a correr mal a Alexandre Gaudêncio até que, já com o carro todo empenado e desgovernado, se despistou, finalmente, na berma da estrada. Diz-se que os gatos têm sete vidas, pela sua capacidade de cair sempre de pé. Gaudêncio é o político das 7 mortes, que nunca conseguiu sequer chegar a levantar-se. Mas, o pior disto tudo nem é o mau gosto musical, é o legado de destruição urbanística e turística do litoral da Ribeira Grande que Gaudêncio vilipendiou, entregando-o, de mão beijada, à selvagem especulação imobiliária e à mais perniciosa massificação turística, como, aliás, a operação “Nortada” deixa perceber. Gaudêncio acabou e se não sair o PSD-A poderá acabar também…