sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

presidente reformado

Não tomem isto como uma manifestação mesquinha de rancor, para isso já nos bastou o discurso do prof. Cavaco na noite da vitória. Mas vindo de quem tanto fala de ética e de moral, de superioridade de carácter e de ser impoluto, branco como o OMO, “nascer duas vezes…” e outros dislates, não deixa de ser surpreendente que o mesmo prof. Cavaco, que se candidatou a um segundo mandato, sabendo de ante mão ao que ia, opte de forma sonsa por duas pensões de reforma, que perfazem mais ou menos dez mil euros, em vez do vencimento de Presidente da República que não chega aos sete mil e quinhentos. Não vale a pena grandes adjectivos, basta dizer que quem se gere por mecanismos destes não percebe nada de "bom senso e de bom gosto". Como diz o povo – mais depressa se apanha um mentiroso do que um coxo.

terça-feira, 18 de janeiro de 2011

O Sr. Rodrigues vai a Lisboa

Por uma razão e por esta e por outra o Sr. Rodrigues vai a Lisboa. No avião, por suspeita de estar grávida a mulher do Sr. Rodrigues não toma o victan que lhe acalma o medo de andar de avião, também conhecido por síndrome da falta de controlo manual e visual no volante da vida. Ao chegar a Lisboa o Sr. Rodrigues passa duas horas a conduzir de um extremo ao outro da cidade entre deixar malas, ir ao supermercado e voltar a casa de familiares. Aí, o Sr. Rodrigues descobre a filha em pranto. Todos os familiares têm um diagnóstico sobre as dores da criança, que termina numa ida tardia à Urgência Pediátrica de um Hospital. O Sr. Rodrigues espera, acompanha, desespera e aguenta até um veredicto final de fracturazinha no dedo, sem direito a gesso e com Brufen de seis em seis horas e Reumon Loção três vezes por dia, entretanto três horas de corredores, médicos, enfermeiros, assistentes, febres, choros, raio-x, pediatra, ortopedista, sono, cansaço, choro, farmácia, casa. O Sr. Rodrigues chega a casa, dorme. O Sr. Rodrigues vai ao chiado. O Sr. Rodrigues vai comer percebes à Ericeira. A Mulher do Sr. Rodrigues fica doente. O Sr. Rodrigues fica doente. O Sr. Rodrigues tem diarreia, febre, não deseja abrir os olhos. O Sr. Rodrigues passa seis horas em posição fetal, deitado numa cama, sem se conseguir mexer. Dois dias depois, ao sair de casa o Sr. Rodrigues descobre que o carro foi rebocado. O Sr. Rodrigues telefona para a esquadra. A esquadra remete para um sms. O sms confirma o carro no parque do Restelo. Um agente informa de um pagamento ao estado de 120 euros. Sr. Rodrigues apanha um táxi. O Sr. Rodrigues paga 135 euros sem discutir o significado de “período completo de vinte e quatro horas” com o agente. A mulher do Sr. Rodrigues não melhora. Ao terceiro dia uma breve tentativa de sair de casa ao centro comercial mais próximo termina em rápido regresso por motivo de desmaio iminente. O Sr. Rodrigues faz canja. O Sr. Rodrigues arruma a casa e faz biberões e lava biberões e vê a SIC Noticias. O Sr. Rodrigues faz malas, transporta malas e ao sexto dia ruma ao aeroporto e de avião à ilha. O Sr. Rodrigues acredita que a Vida imita a Arte. O Sr. Rodrigues solicita que não seja chamado de novo a fazer parte do enredo de novela fantástica de um qualquer jovem escritor de língua portuguesa em inicio de carreira.

terça-feira, 4 de janeiro de 2011

boas palavras para começar o ano

Tem um plano?
Pus um prazo a mim mesmo para andar nestas coisas em que ando, principalmente a política. Termina quando o 25 de Abril fizer 48 anos. Quando tivermos tanto tempo de democracia quanto tivemos de ditadura. A ditadura estava errada. Mas a suprema vingança sobre a ditadura é a seguinte: em 48 anos de democracia fizemos um país muito melhor, mas muito melhor!, do que em 48 anos de ditadura. A partir daí, há outros que pegam nisto.

do sempre entusiasmente Rui Tavares, na Pública de 2 de Janeiro.