quinta-feira, 8 de janeiro de 2015

O que vale um nome.

Quando, há sessenta anos atrás, um pequeno grupo de visionários empresários açorianos criou a Sociedade Açoriana de Transportes Aéreos fê-lo com a ambição de ligar os Açores ao mundo. A parte mais importante de toda a equação era a operacionalidade, era ter os voos. O branding, palavrão que não existia na altura, era a mínima das partes, uma vez que a experiência desses empresários lhes ensinara que a verdadeira marca eram os Açores em si. Para se construir uma marca de referência são necessárias, entre outras, duas coisas fundamentais – conceito e tempo. Bem ou mal, goste-se ou não, a verdade é que ao longo do tempo a SATA criou a sua marca, a sua identidade e notoriedade nos mercados. Aliás, nos últimos anos, foi mesmo alvo de um rebranding, outro palavrão, premiado e reconhecido internacionalmente. Falando de turismo, qualquer leigo percebe que, nos dias de hoje, é irrelevante, aos olhos do consumidor, o nome estampado nas paredes do tubo com cadeiras e asas que o transporta de um lado para o outro. Até porque, como tanto nos tem sido dito para justificar as alterações às Obrigações de Serviço Público, o paradigma do transporte aéreo mudou, havendo uma deslocação de passageiros das chamadas companhias de bandeira paras as ditas Low Cost. Por isso mesmo, há algo que não bate certo nesta anunciada alteração de designação da companhia, de SATA Internacional para Azores Airlines. Ainda mais, quando, se diz que essa alteração está relacionada com o posicionamento comercial da companhia nos mercados norte-americano e macaronésia. O mais importante na afirmação de uma companhia aérea é o serviço, a pontualidade, o conforto, etc. Se me disserem que o nome SATA está hoje nas ruas da amargura na América e Canadá, eu até dou isso de barato. Mas, tenho sérias dúvidas que seja a Azores Airlines que venha resolver isso. Deixo-vos um dado curioso. O aeroporto de Honolulu, no Havaí, conta com cerca de 20 companhias diferentes, que voam de mais de cinquenta pontos de partida, de acordo com dados recentes, a Hawaian Airlines só é líder em duas dessas rotas, nomeadamente Sydney, Austrália e Phoenix, Arizona. Será que essa liderança se faz pelo nome? Claro que não. O que a promoção turística dos Açores precisa é de estratégia, criatividade e dinheiro e a SATA tem que vir atrás disso. Pensar que a promoção dos Açores nos Estados Unidos da América e Canadá se faz com a companhia aérea é, literalmente, colocar a carroça à frente dos bois. Peguem no dinheiro que vão gastar em mudar toda a imagem da companhia, que não será pouco, e dêem-no à promoção do destino, façam campanhas nos mercados, dêem a conhecer as ilhas e deixem, se faz favor, o nome da companhia em paz.

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