quarta-feira, 14 de janeiro de 2015

o pequeno ecrã


A notícia nacional da semana não tem, felizmente, nada que ver com sócrates nem pêtes. A melhor notícia foi a de que o Conselho Geral Independente da RTP indicou os nomes de Gonçalo Reis e, principalmente, Nuno Artur Silva, para a administração da televisão pública.

Quem andar pela casa dos quarenta fará, provavelmente, parte da primeira geração de portugueses que cresceu, verdadeiramente, com a televisão. Nos idos de setenta, quando o objecto entrou nas nossas casas ainda era suficientemente esquisito para ser especial. Depois, com o passar do tempo e, em particular, com a ditadura do canal único, a televisão e os seus conteúdos foram para muitos de nós um elemento formador essencial. Uns melhores, outros piores, a verdade é que figuras como Vasco Granja e Fernando Pessa, Joaquim Furtado e José Duarte ou, ainda, a voz de Eládio Clímaco nos documentários da BBC e da National Geographic, se transformaram em parte do nosso imaginário. Posso afirmá-lo sem pudor, que a televisão e a RTP em particular foram essenciais para o meu crescimento, tanto pelas coisas que me ensinaram como pelos horizontes que abriram. E, lembro-me também do advento das primeiras parabólicas e do verdadeiro universo que abriram para outras línguas, países e ideias. O facto de a minha avó ter uma tornava as minhas férias nos Açores ainda mais especiais. (Pobre da minha avó que, só para me ter a seu lado, aquentou serões e serões a ver o Alternative Nation na MTV… que educação musical, para mim e para ela…).  

Mais tarde, por via dos blogues e por um convite, que teve tanto de audaz como de irreverente, do Joel Neto, secundado pela voz autorizada do Osvaldo Cabral, assumi, eu próprio, o papel de comentador num programa de televisão. O comentário, que tinha tanto de político, como de opinião, como, muitas vezes, de má-língua prolongou-se por quatro ou cinco anos e saltitou por vários programas da RTP-A. O que essa experiência me ensinou foi a importância que a criatividade e a coragem têm na constituição de uma grelha de programas. As televisões serão tanto melhores quanto mais desempoeiradas forem as pessoas responsáveis por as gerir. Desde os administradores, aos directores passando pelos apresentadores e pelas pessoas que dão a cara na tela com inteligência e, acima de tudo, com liberdade.

E aqui chego ao Nuno Artur Silva. Não me interessa nada se ele é de esquerda ou de direita, nem se pertence a este ou àquele lobby. Interessa-me sim que seja uma pessoa com o seu currículo na criação de conteúdos, com a sua bagagem intelectual e com a sua irreverência a gerir os conteúdos de uma estação com os meios da RTP, para que esta deixe de ser, apenas, caixa-de-ressonância da espuma dos dias. Só isso, já é uma boa notícia.

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