quinta-feira, 16 de fevereiro de 2017

Café Royal VII

O nosso Mar

Somos ilhas, nascidas do mar, ancoradas no meio do oceano. Porém, ao longo de quinhentos anos, viramos sempre as costas a esse mar. Somos povo arreigado à solidez da terra e, salvo honrosas excepções, receoso da inconstante agitação das águas. Do mar vinham piratas e invasores, dominadores e cobradores de impostos. O mar era caminho para exportação de bens e de jovens, via para escoar os produtos da abundância da terra e as nossas melhores esperanças. O mar foi tempestades, perigos e outros horrores. Até as nossas igrejas foram erguidas de costas voltadas para o mar. Hoje, essa infinidade de riquezas é cobiçada por todos e o que para outras nações é ouro é para nós uma envergonhada prebenda. A orla marítima, as ondas, os recursos marinhos, a história, todo o imenso mar dos Açores é uma enorme mina, literalmente. E nós, acabrunhados em cima desse maná, deixamo-nos usurpar desse colossal activo. Inquieta pensar o que será mais obsceno, se a nossa incapacidade de tomar o leme a esse processo de aproveitamento das potencialidades do nosso mar ou o facto dessa prospeção estar a ser feita em burocrático e duvidoso segredo no mercado livre dos gabinetes governamentais.

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