quinta-feira, 22 de agosto de 2019

Café Royal CXXXVIII


Deste Verão

Há um adágio popular, recorrente nestes nublados e chuvosos dias de Agosto, que diz que o Verão nos Açores é tão bom que até o Inverno vem cá passar o Verão. Os ecrãs das redes sociais estão pilhados de lamentações por este Verão que nunca foi. E, vemo-los por aí, como zombies, cambaleando pesarosos pelas ruas molhadas, protegendo-se da chuva com olhos tristes, órfãos do sol, os veraneantes de Agosto, a quem o clima roubou o Verão. Lá longe, presos nos seus cubículos, em prédios altos, levaram o ano todo a sonhar com os preciosos 22 dias de férias de Agosto e saiu-lhes isto. Ilhas de bruma. Quem quiser as monotonias algarvias que poupe nos bilhetes de avião. Aqui não há dias ensolarados de céus espantosamente azuis. Aqui não há trinta graus de temperatura, areias finas e brancas e bolas de Berlim. Aqui há o ciclo da água. Estas são ilhas de cinzas, dos vulcões, que as criaram, e das nuvens, que as alimentam. E não há prazeres fáceis. O verão nos Açores é um trabalho árduo, não é para veraneantes. Este Verão não cumpre calendários. É um Verão com humores. É cínico e irónico e, por vezes, um pouco sádico.  Se quiserem dizer que passaram o Verão nos Açores tirem férias em Outubro.


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