quinta-feira, 17 de setembro de 2020

Café Royal CXCII

Talibanização

Esta semana, depois de seis meses de clausura, crianças, jovens, professores, auxiliares e todos os outros intervenientes do universo escolar, regressaram ao ensino presencial. Este deveria ser um momento de regozijo e de reconquista de direitos fundamentais, como o direito à educação. Porém, a ditadura do medo, que teima em não nos abandonar, não permite tal alegria. Quem olhe, mesmo que de relance, para as circulares normativas, os planos de contingência e todos os outros documentos orientadores do regresso às aulas não pode deixar de lançar um suspiro de lamento pela imensa vaga de restrições, imposições e proibições que estão a ser forçadas à comunidade escolar. O regresso às aulas era, só por si, fundamental para minorar as profundas desigualdades expostas pelo ensino virtual dos últimos meses, mas é assustador perceber o rol de distanciamentos, de setas no chão, filas indianas, máscaras, mais toda a enorme panóplia de orientações, dignas de um manual da Mocidade Portuguesa, que tornam este início de ano escolar numa espécie de talibanização das escolas. A Escola deixou de ser um lugar de partilha, de convivência e de crescimento, para ser uma espécie de poço higienizado, regido sob a inclemente Sharia das autoridades sanitárias.

in Açoriano Oriental

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