quinta-feira, 24 de agosto de 2017

Café Royal XXXIV

Agosto IV

O meu mar, o mar pelo qual me apaixonei ainda antes dos dez anos de idade, é o mar das ondas. O mar feito de agitação, energia e espuma. Há muitos anos atrás, quase que noutra vida, o nosso tempo era medido no período das ondulações e no ciclo das marés. Observar os ventos e as luas. Ler mapas meteorológicos como se fossem mapas de tesouro. Em busca da melhor ondulação, da melhor onda. Naquele tempo a costa norte da ilha era local proibido, onde morriam pessoas afogadas. Mas, para nós, era o prometido paraíso de praias desertas, baías impolutas e vagas. Intermináveis dias de ondas. De manhã, dizíamos que íamos para o Pópulo, a pé, e apanhávamos boleia às escondidas na estrada da Ribeira Grande antiga para chegar ao Monte Verde e aos Areais, o pico da ganza, Santa Iria e Rabo de Peixe, a direita da piscina. Nada disto existe mais. Nem mesmo nós. Tudo mudou, inclusive nós. Porém, a magia do tempo é também essa, na forma como nos transformamos com o seu passar. O mar de hoje, o mar de Agosto, é calma e serenidade. O mar refrescante e doce de pequenos balanços e de sol radioso. O mar dos fins de tarde longos de verão e das noites passadas em fato de banho. O mar das crianças, rindo e pulando nas mínimas espumas feitas vagalhões aos seus olhos pequeninos. Sentado no balcão, olhando o Garajau que mergulha no espelho das águas, o trânsito de barcos em torno do ilhéu, olho o mar e deixo-me abraçar pelo seu tempo que passa fluindo…

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