quinta-feira, 31 de agosto de 2017

Café Royal XXXV

Agosto V

Fecha Agosto. Já há Beladonas pelas bermas das estradas. As lojas fazem montras com os materiais escolares e até guardanapos de papel com motivos natalícios espreitam nas prateleiras das grandes superfícies comerciais nessa agonia capitalista que quer forçar a marcha do calendário numa ganância de lucro constante. Os dias ficam mais curtos. As intermitências do clima mais constantes. A ilha esvazia-se lentamente dos visitantes. Os restaurantes voltam a ter lugares e sorrisos para os clientes habituais. Há vinho doce e uvas de cheiro em cestos de vime nas vendas. E figos de doce carnudo. Os ananases que veranearam na estufa ficam mais doces. As noites cheiram ao pólen das conteiras que invadem os montes. No jardim, as miúdas queimam as últimas fantasias, na saída do mar, passando-se na água doce da mangueira. Cresceram, na folia das férias amadurecem como as frutas ao sol. Em breve regressarão à escola, com roupas novas e sorrisos altivos e bronzeados. Elas não o sabem ainda, mas os verões são caixas de memórias, pequenos guarda-joias, onde protegemos a infância e a sua frágil felicidade. Chegando Setembro faremos o balanço das coisas. Em Outubro haverá eleições, dizem-nos os cartazes gigantes que embrutecem a paisagem e os murais do Facebook inundados de fotografias de candidatos sorridentes, invadindo as soleiras das portas. Mas por agora, fechemos Agosto, olhando mais um pôr-de-sol ao som do mar e ao paladar de mais um copo…

Sem comentários: