quinta-feira, 8 de junho de 2017

Café Royal XXIII

Das coisas

Na volta do tempo regressa o Verão. Regressam os dias cálidos, banhados de sol e mar e do riso das crianças. Volta o Verão e a vontade de sal e de mergulhos infantis na fluidez das águas. No último fim-de-semana regressámos ao mar, demos mergulhos, as crianças correram pela areia e esbracejaram em translúcidas piscinas, com a intuição própria da infância. Na ilha, onde não há primavera, onde o inverno se desfaz subitamente na incidência do calor, é o corpo que acode à mudança. É a pele que acolhe em cor a força da luz. Longe vai o tempo em que o mar, a cadência das ondas, era para mim uma constante permanente. Sem o calendário das estações, sem a voracidade das obrigações do dia-a-dia, das pequenas coisas estupidamente transformadas em grandes, esquecidos, pela força imposta do quotidiano da vida, que é nos momentos puros que chegamos à razão de Ser, à razão do Ser. Fui levado, ou deixei-me ir, nessa enxurrada cega das preocupações diárias, das contas para pagar, dos horários fixos, das obrigações fúteis? Em que momento perdi de vista o prazer das coisas límpidas e verdadeiramente importantes? Não procuro morrer para voltar ao mar como disse Sophia. Regresso ao mar, pela mão do amor e das crianças, para resgatar antes a vida dessa quase morte das pequenas coisas quotidianas.

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