quinta-feira, 22 de junho de 2017

Café Royal XXV

Armad(ilha)dos…

No calor da tragédia disseram-nos que “tudo tinha sido feito”. Mas, esse “tudo” foi exatamente o que potenciou mais esta calamidade e todas as que se repetem, ano após ano. Em 40 anos, Portugal foi um país incapaz de se desenvolver de forma estruturalmente equilibrada. Emigração, deslocalização, desertificação, envelhecimento, abandono, avareza, corrupção… Estes são apenas alguns dos mecanismos da bomba-relógio em que se transformou o país. E a culpa é de todos nós! Cidadãos, porque nos alheamos progressivamente da responsabilidade que temos para com a terra e a comunidade. E políticos, porque, conscientemente, abdicam do futuro em prol da próxima eleição… Lá é o fogo, nas ilhas é a água. Chuva e mar, são os agentes recorrentes das tragédias que fustigam a região. E a atividade sísmica e vulcânica, mas que, elas próprias, podem, hoje em dia, com alguma segurança, ser monitorizadas. Porém, também nos Açores se fechou criminosamente os olhos aos riscos sinalizados e calculáveis. Esbanjámos dinheiro em obras faraónicas e festas fúteis, em vez de o usar em políticas corajosas de ordenamento do território, colocando, com isso, as nossas comunidades à mercê duma verdadeira armadilha, em contagem decrescente até à próxima tragédia. Nesse dia, algum político dirá que “tudo foi feito”, sabendo ele que, numa gaveta qualquer, jaz, escondido, um relatório técnico que avisava para o perigo…

in Açoriano Oriental

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