quinta-feira, 21 de junho de 2018

Café Royal LXXVII

A desumanização

Após a chegada aos campos, transportadas, aos milhares, em vagões de gado, as pessoas eram separadas em duas filas, homens e mulheres. Eram depois inspecionados por médicos. Todos os maiores de 14 anos, considerados aptos para “trabalhar”, eram postos de um lado. Os restantes iam para as câmaras de gás. Em “Sophie’s Choice”, filme de Alan J. Pakula, este drama de separação e morte, de animalesca desumanização do Ser, é individualizado de forma pungente por Meryl Streep, Sophie, uma emigrante polaca na América do pós-guerra, que carrega permanentemente dentro de si a insuperável culpa da sua escolha. Ao chegar a Auschiwtz, Sophie é forçada pelos SS a escolher qual dos seus dois filhos irá morrer e qual irá “viver”. Setenta anos depois, assistimos, com pasmo e pavor, a barcos com migrantes a serem impedidos de atracar em portos europeus, ao recenseamento e expulsão de minorias ciganas, e a crianças a serem separadas dos pais na fronteira dos EUA. Uma reprodução insana e incompreensível da bárbara desumanização a que assistimos no passado e que nos coloca perigosamente próximos desse horror absoluto que creríamos irrepetível.
 

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