Em boa hora organizou o decano periódico Açoriano Oriental
um ciclo de conferências com o intuito de pensar o desenvolvimento da região. É
certamente simbólico que o tema escolhido para inaugurar tão auspicioso evento fosse
o Turismo, marca de como esta indústria, tantas vezes incompreendida e outras
tantas louvada como panaceia para todos os males, é de facto um elemento
decisivo do desenvolvimento futuro destas nossas nove ilhas.
Do muito que foi debatido, desde questões mais imediatas a questões
mais estruturais, passando, obviamente, pelos efeitos dramáticos da maior, mais
prolongada e perigosa, crise da era contemporânea ficou no ar um paradoxal ar
de mal du temps com toques de otimismo
e esperança. No fundo parece que das muitas críticas que são feitas, muitas
delas, por teimosia ou fé, pelos mesmos intervenientes ao longo dos anos, numa
coisa os agentes do sector aparentam estar de acordo, ainda, que é na confiança
de que esta é uma indústria com enorme potencial na região. Ao menos isso!
É que numa região onde as acessibilidades são tidas como
caras e deficientes, a hotelaria desadequada e de pouca qualidade, a
gastronomia demorada, básica e monótona, os serviços escassos, os profissionais
pouco profissionais, as políticas erradas, a promoção incoerente, etc., etc.,
valha-nos, a todos nós, sejam players
ou não, a gota de esperança que nos faz acreditar que, lá no fundo, o turismo
pode, possivelmente deve, ser um pilar de desenvolvimento da região e que a
região têm, desde logo, os elementos endógenos necessários para tal.
Mas, nem só de enfado se fez a conferência, algumas ideias e
discussões foram mais construtivas como a desmontagem precisa e assertiva do
mito das low cost, que mais do que
despoletarem um destino o canibalizam de forma voraz, ou a dicotomia entre
turismo de massas e massificado (porque não são a mesma coisa) versus o turismo
de nicho, que o é tanto nos produtos como nos mercados, como até na demografia
e sociologia dos potenciais consumidores, terminando na necessária e
progressiva profissionalização dos agentes e estratégias de promoção do destino.
Perante tudo isto, não deixa de ser irónico perceber que muito do que é
apontado, muitas vezes exigido, pelos agentes privados, ou pelos intelectuais
encartados, foi já anunciado, e na própria conferência confirmado, pelo atual
Governo Regional como estratégia e orientação política para o setor nos
próximos anos, à cabeça a profissionalização e agregação da promoção numa agência
público-privada.
Porém, creio que o mais importante que foi dito num dia
inteiro de tempestade cerebral sobre o tema do turismo foi pouco debatido e
corre o risco de se perder no turbilhão das discussões acessórias, muitas vezes
emprenhadas de umbiguismo, que são férteis neste terreno dos debates sobre uma
matéria em que todos são especialistas, porque todos já foram turistas pelo menos
uma vez na vida. O mais importante é uma pergunta que os Açores têm com
urgência que fazer, que é: Querem os Açores ser uma região turística?
Todos sabemos que o potencial existe, todos sabemos que daí
pode advir riqueza e desenvolvimento, mas é preciso perceber se os Açores, as
açorianas e os açorianos, estão disponíveis para se dedicar, com todos os
sacrifícios e mudanças que isso possa acarretar, em transformar, porque é de
uma transformação de que falamos, o arquipélago num verdadeiro destino turístico,
com tudo o que isso implica de ordenamento do território, de proteção
ambiental, de mudanças na conceção do trabalho, do lazer, do próprio relacionamento
interpessoal. Compreenda-se que não é de uma descaracterização de que falamos,
mas antes de uma sublimação do que é ser açoriano, dos fatores geográficos,
climáticos, históricos, culturais, que fazem a identidade açoriana, para que os
mesmos possam ser apreciados uma e outra vez por aqueles que nos visitem. E, tão
ou mais importante do que essa construção, saber vender isso com um sorriso de
simpatia.
Há cerca de 100 anos atrás um pequeno, muito pequeno e incompreendido,
grupo de homens de uma elite abastada decidiram orientar o posicionamento
estratégico do arquipélago para um aproveitamento económico do mesmo pelo
turismo. Nos anos 90 do século passado uma elite política decidiu tentar o
mesmo, dessa vez impulsionada pelos milhões a fundo perdido de dinheiros comunitários.
Talvez agora seja o tempo certo de a população do arquipélago, toda a população
num desígnio comum, pensar se este pode ou não ser um caminho. É tempo de
perguntar – Querem Turismo?
Se a resposta, como espero, for: sim! Então, há muito
trabalho a fazer, por todos e para todos.