quinta-feira, 26 de novembro de 2020

Café Royal CCII

Opções iniciais

Numa opção legítima, embora não totalmente incensurável, o novo Governo Regional decidiu orientar o grosso das suas decisões iniciais para a gestão da pandemia. Em poucos dias, Bolieiro anunciou uma série de medidas de administração sanitária, incluindo, ao melhor estilo do mercado de transferências futebolístico, como quem anuncia um novo avançado, a contratação de um médico de saúde pública para capitanear a equipa da Autoridade de Saúde, reclamando, ainda, a sua total independência do poder político. Ora, o que me preocupa, nestas demonstrações iniciáticas de vigor governativo, é a manutenção, ao jeito do velho Governo, da táctica de cingir a pandemia a um problema exclusivamente de saúde pública. O que falta neste combate, e tem faltado desde o seu início, é, justamente, mais decisões políticas, mais visão histórica, mais conhecimento de sociologia e, sobretudo, mais economia. Dito de forma simples, têm faltado Estadistas. Para os clínicos, nós todos não passamos de hospedeiros de um vírus que é preciso travar a todo o custo. O que realmente precisamos é de Políticos, que entendam que uma pandemia não se combate apenas salvando vidas, mas salvando pessoas e, fundamentalmente, preservando modos de vida.

in Açoriano Oriental

quinta-feira, 19 de novembro de 2020

Café Royal CCI

Pensar os dados

Em Itália, um estudo científico, do Instituto Nacional do Cancro, concluiu que o novo coronavírus já circulava no país em Setembro de 2019. Por cá, a média diária de positivos, nos quinze dias anteriores às eleições, foi de 2,8. Nos quinze dias depois do dia 25, foi de 6,8. Quase se diria que o vírus tirou férias no Douro, em Outubro, e que esperou pelo Domingo das eleições para apanhar um avião para os Açores, onde aterrou diretamente na Casa das Bonecas e, daí, num rodopio do varão, saltitou para restaurantes, escolas e liceus. O que estes dados nos demonstram é que nem tudo nesta pandemia é clínico e matemático, aliás, como bem resumiu o médico alemão Rudolf Virchow, no longínquo séc. XIX, “uma epidemia é um fenómeno social que tem alguns aspectos médicos.” A informação agora descoberta em Itália revela duas questões essenciais: 1º que tão ou até mais perigoso que o SARS-CoV-2 é o contágio do pânico disseminado, ad nauseam, pela comunicação social; 2º, e mais importante, que o vírus não é, afinal, nem tão letal, nem contagioso como nos querem fazer acreditar. Por cá, o que os números e as reações despóticas das autoridades nos dizem é que continuamos a tratar esta epidemia como se ela não fosse, de facto, um fenómeno social.

in Açoriano Oriental

quinta-feira, 12 de novembro de 2020

Café Royal CC

Fim de um ciclo

Esta, que é a ducentésima crónica deste Café Royal é, também, o fim de um ciclo. Todas as semanas, ao longo de quatro anos, desde janeiro de 2017, procurei sempre cultivar, em cafés curtos e fortes, a liberdade de pensamento, a crítica franca e aberta, a exigência ética, moral e a transparência nas políticas públicas e, de uma forma geral, na cidadania. Para muitos, esta manifestação pública de uma certa bravura ou, se calhar, de desencanto foi vista como um gesto ressentido, uma espécie de oposição velada ao governo socialista. Para mim, pelo contrário, foi sempre um acto de reafirmação intrépida dos ideários humanistas que estão na génese do socialismo e que urgem, permanentemente, assinalar e cuidar. Hoje, ao assistir ao desnudar da crise do capitalismo, à legitimação, por supostos democratas, dos maiores ataques às liberdades individuais, ao desmoronar dos valores solidários do Estado Social e, aqui nestas nove encantadas ilhas, ao agrupamento oportunista das direitas conservadoras, reacionárias, totalitárias, neoliberais e fascistas para um assalto selvagem ao poder, reforça-se-me o sentimento da imperiosa necessidade de continuar a lutar, cada dia mais, pelos valores mais altos da Liberdade, da Igualdade e da Fraternidade.

in Açoriano Oriental

quinta-feira, 5 de novembro de 2020

Café Royal CXCIX

Novas eleições

Num sensacional gesto de contorcionismo político as velhas direitas insulares apresentaram o seu esquiço de acordo com vista à formação de governo. Este golpe de marketing, com zero de conteúdo, pela sua encenação vazia e patética de intrujonas juras de fidelidade legislativa, demonstrou apenas que a única cola que une este casamento por conveniência pós-eleitoral é um visceral ódio ao PS. Algo que, só por si, não constitui grande projecto para o futuro da região. Acresce, e por mais que tentem lixiviar o pormaior, que esta envergonhante AD insular só poderá tomar posse estribada no extremismo antidemocrático do CHEGA, e mais 1. Porém, do outro lado do arco-íris parlamentar está um PS que se viu reduzido a uma vitória por poucochinho e com, apesar da caridade do BE, parcas hipóteses de ser governo, como demonstra, aliás, o prolongado e ensurdecedor silêncio dos seus dirigentes. Resta-nos então, cumpridos os formalismos da pompa parlamentar, seguir para novas eleições, que esclareçam, matematicamente, qual o verdadeiro sentimento do povo: uma maioria de esquerda ou uma maioria de direitas empoleirada no discurso larvar dos neofascistas do CHEGA.

in Açoriano Oriental