quinta-feira, 28 de novembro de 2019

Café Royal CLII


Ir devagar

Vivemos num tempo cada dia mais acelerado. Tudo passa à velocidade do curto instante, da voracidade do consumo, do flash da selfie. A sociedade de consumo tornou-se autofágica, consumindo tudo, como Gargântua, até, quem sabe, um dia, se consumir a si própria. No mundo capitalista então, esta tendência é ainda mais expressiva. Empresas e consumidores vivem na ânsia do novo modelo, do novo produto, da nova grande ideia que irá revolucionar o mundo e fazer chover cifrões e notas de euros sobre as contas bancárias do próximo “unicórnio” digital. Também na política, o rolo compressor do momento mediático arrasa o pensamento, a análise e a estratégia. Os partidos e os governos atropelam-se a si próprios, como estafetas bêbados, tropeçando nos seus próprios pés. Citando o inimitável personagem dos anos 80 Ferris Bueller “a vida passa demasiado depressa, se não pararmos e olharmos em volta de vez em quando, acabamos por perdê-la.” Às vezes o mais importante a fazer na vida é ir devagar, parar para pensar. Olhar o que nos rodeia e perceber que o mais inovador é precisamente preservar o passado, manter uma tradição, cuidar do que nos é dado para que possa, um dia, ser, também, da próxima geração.


quinta-feira, 21 de novembro de 2019

Café Royal CLI


É só uma ideia

Pressionado pela aparição de Bolieiro no seu retrovisor, o PS resolveu acelerar o seu calendário político e deu à luz, prematuramente diria eu, um fórum denominado “Todos Contam! Açores Primeiro”, convidando-nos a ter uma ideia para a região. Pensar os Açores é, certamente, uma tarefa nobre e, quem sabe até, necessária, só que é chão que já deu uvas. O próprio PS anda nisso há décadas, desde o Fórum Açoriano e o SOS Lagoas até ao “A Força da Autonomia somos todos nós” de há quatro anos atrás, lembram-se? O melhor que o PS podia fazer neste momento, para além de governar, e governar bem, já agora, era pegar nos seus 6 programas de governo e verificar, um a um, tudo o que foi feito e o, provavelmente muito, que ficou por fazer. Mas, se o que se pretende são ideias, deixo desde já aqui uma: Acabar com a triste sina de nove ilhas de costas voltadas umas para as outras e unir definitivamente os açorianos em torno de um projecto comum de desenvolvimento económico, social e cultural. O grande desafio por cumprir da autonomia é a concretização plena de uma verdadeira noção de identidade arquipelágica açoriana, é a materialização da açorianidade.


quinta-feira, 14 de novembro de 2019

Café Royal CL


Interstellar

É Novembro e é Verão. Dias longos de sol quente e águas lisas e fins-de-tarde de horizontes infinitos e alaranjados, espécie de recompensa para o Verão que não existiu. A lentidão deste Novembro contagiou-nos a todos, até aos políticos, que assam presidentes de conselhos de administração de companhias aéreas como se assassem castanhas. A quietude dos dias ensolarados só contrasta com a movimentação subterrânea das placas tectónicas que se faz sentir na emergência dos sismos. Mas, não há urgências este Novembro. O governo continua a trabalhar, a oposição a pensar, o parlamento a protelar e os prazos para a conclusão da Casa da Autonomia a prorrogar. Como vai doce este Novembro. Lá por Lisboa igual. Continuamos imunes à tragédia de um recém-nascido deitado ao lixo por um sem-abrigo a quem toda a sociedade trata como lixo. Na assembleia pretendia-se calar quem acabou de ganhar voz para falar. No governo, o salário mínimo sobe 5% enquanto a produtividade estima-se que só consiga subir 3%. Lá por fora, Espanha voltou a votar, a América a Impeachmentar, a Voyager 2 chegou ao espaço interestelar, mas por aqui e por enquanto o sol de Novembro continua a brilhar.


quinta-feira, 7 de novembro de 2019

Café Royal CXLIX


CTRL+ALT+DEL

A menos de um ano de eleições, a região vive dias conturbados. O PSD está em estado catatónico. Suspenso na indefinição sebastiânica de Bolieiro que, num acto de incompreensível cobardia política, não foi ainda capaz de dizer se aceita ou não ser presidente do partido. Cada dia que passa nessa letargia, o estado comatoso do PSD agrava-se. Mas, ao mesmo tempo, PS e Governo vêem-se confrontados com crises e erros, numa sucessão de calamidades, que mais parece um colorido e electrizante efeito dominó. O Governo, refém da Vice-presidência, transformou-se numa rede de jeitos aos amigos e de represálias àqueles que, por delito de opinião, se julga serem os inimigos. Falta desígnio e estratégia para a Região. Antigamente, quando os computadores bloqueavam o truque era recorrer às teclas CRTL+ALT+DEL para reiniciar a máquina. Resta saber se Vasco Cordeiro, que é, ainda, o verdadeiro capital político do PS, conseguirá sair da sua imensa mansidão e crónica indecisão para dar esse choque no sistema. Os riscos de deixar tudo como está, esteja ou não Bolieiro no leme da Nau Catrineta que se tornou o PSD, são ver escapar a maioria absoluta e, debalde, entregar o PS aos carreiristas.