Ir devagar
Vivemos num tempo cada dia mais acelerado. Tudo passa à
velocidade do curto instante, da voracidade do consumo, do flash da selfie. A sociedade
de consumo tornou-se autofágica, consumindo tudo, como Gargântua, até, quem
sabe, um dia, se consumir a si própria. No mundo capitalista então, esta tendência
é ainda mais expressiva. Empresas e consumidores vivem na ânsia do novo modelo,
do novo produto, da nova grande ideia que irá revolucionar o mundo e fazer
chover cifrões e notas de euros sobre as contas bancárias do próximo “unicórnio”
digital. Também na política, o rolo compressor do momento mediático arrasa o
pensamento, a análise e a estratégia. Os partidos e os governos atropelam-se a
si próprios, como estafetas bêbados, tropeçando nos seus próprios pés. Citando
o inimitável personagem dos anos 80 Ferris Bueller “a vida passa demasiado
depressa, se não pararmos e olharmos em volta de vez em quando, acabamos por perdê-la.”
Às vezes o mais importante a fazer na vida é ir devagar, parar para pensar.
Olhar o que nos rodeia e perceber que o mais inovador é precisamente preservar
o passado, manter uma tradição, cuidar do que nos é dado para que possa, um dia,
ser, também, da próxima geração.