Bastava 1.
Bastava uma morte. Não eram precisas 64, ou 65, ou qualquer outro número que
lhe queiram dar. Bastava 1. Mas, no entanto, desprovidos da mais elementar
decência, políticos e jornalistas entretêm-se numa obscena contabilidade da
morte. Num sinistro espetáculo que é revelador, acima de tudo, da falência de todo
um país. Pedrogão Grande é o marco, esperemos que definitivo, da morte de
Portugal inteiro. Em 80 anos, 40 de ditadura e 40 de liberdade, Portugal falhou.
O interior é deserto, envelhecido, acabrunhado. O litoral é desordenado,
desequilibrado, desvairado… Este é o verdadeiro retrato do país que as chamas
devastadoras de Pedrogão revelaram. Porém, na face da tragédia, o que fazemos
enquanto comunidade é discutir o número de lápides quando deveríamos debater e
agir em nome do futuro. Urge uma política de ordenamento do território, mas os
nossos políticos estão entretidos a fazer ultimatos vácuos, passar de culpas e
outras tantas declarações que seriam vãs, não fossem tenebrosas as causas que
nos colocaram aqui. Urge equilibrar o país, no uso da terra, na criação de
riqueza, na invenção de uma comunidade que seja tão solidária como produtiva.
No entanto, o que fazemos é divagar tetricamente sobre as sombras dos mortos
buscando tirar ganhos políticos e eleitorais da dor profunda que as labaredas
criaram. Bastava um, bastava uma morte, porque esse um somos nós todos, essa
morte é a nossa morte…
Em resumo
Há 2 horas