Por uma razão e por esta e por outra o Sr. Rodrigues vai a Lisboa. No avião, por suspeita de estar grávida a mulher do Sr. Rodrigues não toma o victan que lhe acalma o medo de andar de avião, também conhecido por síndrome da falta de controlo manual e visual no volante da vida. Ao chegar a Lisboa o Sr. Rodrigues passa duas horas a conduzir de um extremo ao outro da cidade entre deixar malas, ir ao supermercado e voltar a casa de familiares. Aí, o Sr. Rodrigues descobre a filha em pranto. Todos os familiares têm um diagnóstico sobre as dores da criança, que termina numa ida tardia à Urgência Pediátrica de um Hospital. O Sr. Rodrigues espera, acompanha, desespera e aguenta até um veredicto final de fracturazinha no dedo, sem direito a gesso e com Brufen de seis em seis horas e Reumon Loção três vezes por dia, entretanto três horas de corredores, médicos, enfermeiros, assistentes, febres, choros, raio-x, pediatra, ortopedista, sono, cansaço, choro, farmácia, casa. O Sr. Rodrigues chega a casa, dorme. O Sr. Rodrigues vai ao chiado. O Sr. Rodrigues vai comer percebes à Ericeira. A Mulher do Sr. Rodrigues fica doente. O Sr. Rodrigues fica doente. O Sr. Rodrigues tem diarreia, febre, não deseja abrir os olhos. O Sr. Rodrigues passa seis horas em posição fetal, deitado numa cama, sem se conseguir mexer. Dois dias depois, ao sair de casa o Sr. Rodrigues descobre que o carro foi rebocado. O Sr. Rodrigues telefona para a esquadra. A esquadra remete para um sms. O sms confirma o carro no parque do Restelo. Um agente informa de um pagamento ao estado de 120 euros. Sr. Rodrigues apanha um táxi. O Sr. Rodrigues paga 135 euros sem discutir o significado de “período completo de vinte e quatro horas” com o agente. A mulher do Sr. Rodrigues não melhora. Ao terceiro dia uma breve tentativa de sair de casa ao centro comercial mais próximo termina em rápido regresso por motivo de desmaio iminente. O Sr. Rodrigues faz canja. O Sr. Rodrigues arruma a casa e faz biberões e lava biberões e vê a SIC Noticias. O Sr. Rodrigues faz malas, transporta malas e ao sexto dia ruma ao aeroporto e de avião à ilha. O Sr. Rodrigues acredita que a Vida imita a Arte. O Sr. Rodrigues solicita que não seja chamado de novo a fazer parte do enredo de novela fantástica de um qualquer jovem escritor de língua portuguesa em inicio de carreira.