O Futuro
Sem sobressalto, sem sequer inquietação, abraçámos a quarentena
como se fosse um familiar perdido. Isolamento, distanciamento social, estado de
emergência, a perda de pequenas liberdades, agora mínimas, mas que um dia serão
fundamentais, o próprio confinamento, a tudo anuímos com a naturalidade do
medo. O Governo, com o pretexto de combater a morte, matou rapidamente a
economia. Milhares de pequenos negócios e empreendedores foram lançados à máquina
incineradora do crédito bancário e da prorrogação de prazos. Dizem que estão a
salvar vidas, mas omitem que a nossa vida já morreu. As crianças não vão à
escola, os adultos não se dirigem ao trabalho, deixamos os cafés, inutilizamos
os restaurantes, cancelamos as viagens, as amizades foram encarceradas nos
grupos de WhatsApp. Quando tudo isto acabar, na próxima semana ou daqui a um
ano (Quem sabe?), nada voltará a ser como antes. Não há regresso. O futuro
encarregar-se-á de garantir isso. A nós, a cada um de nós, resta-nos decidir se
queremos construir esse futuro, ou se o queremos apenas aceitar, tácita e
passivamente, como seguimos fazendo agora com este contagiado presente.