A notícia nacional da semana não tem, felizmente,
nada que ver com sócrates nem pêtes. A melhor notícia foi a de que o Conselho
Geral Independente da RTP indicou os nomes de Gonçalo Reis e, principalmente,
Nuno Artur Silva, para a administração da televisão pública.
Quem andar pela casa dos quarenta fará,
provavelmente, parte da primeira geração de portugueses que cresceu,
verdadeiramente, com a televisão. Nos idos de setenta, quando o objecto entrou
nas nossas casas ainda era suficientemente esquisito para ser especial. Depois,
com o passar do tempo e, em particular, com a ditadura do canal único, a
televisão e os seus conteúdos foram para muitos de nós um elemento formador
essencial. Uns melhores, outros piores, a verdade é que figuras como Vasco
Granja e Fernando Pessa, Joaquim Furtado e José Duarte ou, ainda, a voz de Eládio
Clímaco nos documentários da BBC e da National Geographic, se transformaram em
parte do nosso imaginário. Posso afirmá-lo sem pudor, que a televisão e a RTP
em particular foram essenciais para o meu crescimento, tanto pelas coisas que
me ensinaram como pelos horizontes que abriram. E, lembro-me também do advento
das primeiras parabólicas e do verdadeiro universo que abriram para outras línguas,
países e ideias. O facto de a minha avó ter uma tornava as minhas férias nos
Açores ainda mais especiais. (Pobre da minha avó que, só para me ter a seu
lado, aquentou serões e serões a ver o Alternative Nation na MTV… que educação musical,
para mim e para ela…).
Mais tarde, por via dos blogues e por um
convite, que teve tanto de audaz como de irreverente, do Joel Neto, secundado
pela voz autorizada do Osvaldo Cabral, assumi, eu próprio, o papel de
comentador num programa de televisão. O comentário, que tinha tanto de
político, como de opinião, como, muitas vezes, de má-língua prolongou-se por
quatro ou cinco anos e saltitou por vários programas da RTP-A. O que essa
experiência me ensinou foi a importância que a criatividade e a coragem têm na constituição
de uma grelha de programas. As televisões serão tanto melhores quanto mais
desempoeiradas forem as pessoas responsáveis por as gerir. Desde os
administradores, aos directores passando pelos apresentadores e pelas pessoas
que dão a cara na tela com inteligência e, acima de tudo, com liberdade.
E aqui chego ao Nuno Artur Silva. Não me interessa
nada se ele é de esquerda ou de direita, nem se pertence a este ou àquele
lobby. Interessa-me sim que seja uma pessoa com o seu currículo na criação de conteúdos,
com a sua bagagem intelectual e com a sua irreverência a gerir os conteúdos de
uma estação com os meios da RTP, para que esta deixe de ser, apenas, caixa-de-ressonância
da espuma dos dias. Só isso, já é uma boa notícia.