O novo mesmo
Debelada a febre sanitária, a política começa a acordar para
a gangrena económica. Por todo o lado, o que se vê e ouve é: recessão, depressão
e crise. Acossados pelo troar dos cascos dos novos cavaleiros do Apocalipse – falências,
desemprego, pobreza e fome – os políticos apressam-se, em afã mediático, a fazer
passar a ideia de que estão empenhadíssimos na construção do “novo normal”. Vemo-los
em reuniões e visitas e escutamos-lhes as declarações pesadas. Contudo, chegados
cerca dos microfones, vemo-los a tirar as máscaras cirúrgicas, mas não deixam cair
as outras, as máscaras do cinismo e da hipocrisia. Por detrás da falsa inquietação,
continua o mesmo “business as usual”, os mesmos compadrios, os mesmos
jogos de bastidores, os mesmos Novos Bancos, o mesmo e escabroso calculismo
eleitoral que leva um Primeiro-ministro socialista a apoiar o mais demagógico e
reaccionário Presidente da República da nossa democracia ou, o próprio Carlos
Cesar a insultar publicamente Ana Gomes, uma das mais integras e competentes
figuras do partido e candidata natural do PS às presidenciais. As nossas vidas
mudaram, mas as deles continuam na mesma, preocupados apenas com ganhar eleições.