quinta-feira, 24 de setembro de 2020

Café Royal CXCIII

Governar Bem

Andamos a ser inundados pelo costumeiro afã político pré-eleitoral da “obra feita”. Ao ritmo de 12 notas do GACS por dia, o Governo Regional tem-se desmultiplicado em anúncios e outros tantos memes de redes sociais, com vista a inculcar nos eleitores as benfeitorias da sua governação e, em particular, do apoio, dizem eles, aos sectores da economia mais afectados pela gestão da pandemia, como é o caso do Turismo. Assim de chofre, lembro-me de um apoio aos custos fixos das empresas; a Ryanair na Terceira; a renovação da imagem dos Postos de Informação Turística; uma ferramenta web para agilizar a entrada e novas infraestruturas de recepção aos passageiros no aeroporto de Ponta Delgada; apoios à formação dos trabalhadores. E, há dias, em homilia em Santana, o Presidente do Governo anunciou ainda a prorrogação da campanha de turismo interno, com a extensão à própria ilha, e um incentivo financeiro à realização de testes previamente ao embarque para a região. Tudo muito lindo e algumas destas medidas só pecam por tardias. Mas, o que realmente impressiona é a incapacidade dos governantes em perceber que em lugar destas verdadeiras diarreias sazonais de anúncios ocos a melhor e mais eficaz acção de campanha é, pura e simplesmente, governar bem.

in Açoriano Oriental

quinta-feira, 17 de setembro de 2020

Café Royal CXCII

Talibanização

Esta semana, depois de seis meses de clausura, crianças, jovens, professores, auxiliares e todos os outros intervenientes do universo escolar, regressaram ao ensino presencial. Este deveria ser um momento de regozijo e de reconquista de direitos fundamentais, como o direito à educação. Porém, a ditadura do medo, que teima em não nos abandonar, não permite tal alegria. Quem olhe, mesmo que de relance, para as circulares normativas, os planos de contingência e todos os outros documentos orientadores do regresso às aulas não pode deixar de lançar um suspiro de lamento pela imensa vaga de restrições, imposições e proibições que estão a ser forçadas à comunidade escolar. O regresso às aulas era, só por si, fundamental para minorar as profundas desigualdades expostas pelo ensino virtual dos últimos meses, mas é assustador perceber o rol de distanciamentos, de setas no chão, filas indianas, máscaras, mais toda a enorme panóplia de orientações, dignas de um manual da Mocidade Portuguesa, que tornam este início de ano escolar numa espécie de talibanização das escolas. A Escola deixou de ser um lugar de partilha, de convivência e de crescimento, para ser uma espécie de poço higienizado, regido sob a inclemente Sharia das autoridades sanitárias.

in Açoriano Oriental

quinta-feira, 10 de setembro de 2020

Café Royal CXCI

Ana Gomes

Estes 46 anos de evolução do nosso regime democrático trouxeram-nos a uma espécie de encruzilhada política. A democracia, que, na sua génese, é a governação pelo povo, foi capturada pelos partidos, transformando o país numa partidocracia e, em alguns casos extremos, como o nosso, numa oligarquia político-partidária com laivos antirrepublicanos e quási monárquicos. Esta captura do regime pelos directórios partidários, grande parte deles já de si capturados por uma miríade de interesses económicos, empresariais e outros aventais, permitiu a disseminação de vastas redes de compadrio e de corrupção, que contaminaram o sistema desde o mais pequeno Presidente de Junta ao mais popular Presidente da República. A hora é de que o mais alto magistrado da Nação seja alguém para quem a política não é um modo de vida, nem uma forma de ganhar a vida. Nem uma profecia de infância do tempo do outro marcelismo, de má memória. Nem, tão pouco, um jogo fétido de populismo basal protofascista ou de uma sucessão de cinismos, como o que leva a direcção do PS, num gesto desprezível, a declarar loas ao mais invertebrado Presidente que este país já viu. A hora é de quem veja a política com ética e valores. A hora é de apoiar Ana Gomes.

in Açoriano Oriental

quinta-feira, 3 de setembro de 2020

Café Royal CXC

Pandemia do medo

Em Setembro completamos seis meses desde que o mundo, tal como o conhecíamos, se desmoronou. Em Março mergulhamos no pântano pandémico. Atolados nesse lodo de fechamento, distanciamento, isolamento, máscaras irrespiráveis e de todos os outros tentáculos desse afogamento colectivo com que a Covid-19 destruiu as nossas vidas. Nos Açores tivemos 224 casos confirmados. Uma taxa de infecção de 0,09%, se tivermos em conta apenas a população residente, mas se incluirmos os passageiros chegados à região essa taxa será ainda significativamente menor. De acordo com os próprios comunicados da Autoridade de Saúde, de 1 de Agosto a 1 de Setembro foram feitos 41837 testes na região, 48 deram positivo (0,1%). Desses apenas 30 estão na região e nenhum, repito, nenhum está internado a necessitar de cuidados médicos. Em jeito de comparação, todos os anos são internadas cerca de 300 pessoas com AVC, só no HDES. Que em Março houvesse desconhecimento, impreparação e medo era natural e compreensível. Que em Setembro ainda se esteja a manipular esse medo e a clamar insistentemente por legislação para impor o fascismo sanitário é não só absurdo como intolerável. Pior, é utilizar esse medo como instrumento de campanha eleitoral e isso, então, é imperdoável…

in Açoriano Oriental