Nos últimos dias muito se
falou de dignidade da pessoa humana, reduzindo-a, estupidamente, à fronteira da
morte, como se esta fosse um instante singular no percurso da vida. Legislar
sobre a liberdade de escolha pela eutanásia, tal como pelo aborto, não pode ser
o mesmo que decretar sobre o valor das assinaturas de arquitectos e engenheiros.
Aquilo que os partidos da Geringonça (menos o PCP e mais o Sr. do PAN…) tentaram
fazer, numa questão essencial, de liberdade individual do cidadão - decidir
sobre a sua própria morte - foi em todos os sentidos indigno porque
absolutamente antidemocrático. A pequena golpada de querer fazer passar uma lei
fundamental sem aviso, sem escrutínio popular e sem o debate público de um
referendo, apenas teve como resultado a morte deste assunto no futuro próximo. As
democracias deviam ser lugares de respeito, de dignidade, entre eleitos e
eleitores. Querendo decidir sozinhos, sem um debate esclarecido e alargado, os
partidos “eutanasiaram” a eutanásia… É pena, porque este assunto merecia ser
tratado com a mesma dignidade que se pretendia dar ao terminar da vida.
quinta-feira, 31 de maio de 2018
quinta-feira, 24 de maio de 2018
Café Royal LXXIII
Os Americanos
É uma célebre cena de
Zeca Medeiros, a brilhante Maria Bifa, a Gilda do Baixio, cambaleando as vielas
de Vila Franca, gritando ao escuro a medo “véim
aí os rússes!”. Não deixa de ser irónico que agora não seja já esse sonho
feito barco de alcançar a América e sejam os americanos a aterrar ilha dentro.
E já se ouvem políticos e empresários a vociferar “véim aí os amaricanes!”. Quais naus das índias carregadas de ouro.
Mas o que vem nestes aviões são rabos em cadeiras, como se diz no jargão do
turismo. Pessoas, com gostos e vontades, diferentes dos Europeus, habituadas a
viajar e que procuram diversidade e qualidade. Será que estamos preparados? Nas
redes sociais vendemo-nos com um inglês pior que do tradutor do Google. Não temos
formação. A época-alta vai ser passada em obras. E até as praias vão estar sem
nadadores salvadores até meados de Junho. Os responsáveis dirão que se fez tudo,
que não há dinheiro, e amanhã lá estarão, na porta do aeroporto, a oferecer
rosas ao som de folclore. Não há nem dinheiro nem qualificação, mas há
bailinhos. Será que isso chega para os americanos?
quinta-feira, 17 de maio de 2018
Café Royal LXXII
Açores?
O mais profundo falhanço
da autonomia regional mais, até, que a criação de um modelo de desenvolvimento
sustentável é o falhanço da ideia arquipelágica. Nenhum governo, nenhum partido
político, conseguiu dar Açores às nove ilhas do arquipélago. As ilhas vivem
desirmanadas, conflituadas entre si, constantemente em birras e ciúmes. E hoje,
mais do que nunca, essa inveja agudiza-se. O Pico quer um avião igual aos de
São Miguel. O Faial quer uma pista (que todos sabem ser inviável, mas que
cinicamente querem ver construída pelos dinheiros da República, no que seria um
dos maiores crimes financeiros e ambientais alguma vez visto na região…) onde
não haverá aviões. A Terceira quer portos onde não atracarão barcos. E todos,
do Corvo a Santa Maria, querem ser como Ponta Delgada que, coitada, não sabe
bem o que quer ser. A tão apregoada Autonomia Regional não é mais do que uma
expressão vazia para uso da retórica política, porque a nossa realidade hoje é
a de nove calhaus isolados, de costas voltadas uns para os outros, chorando as
mágoas e as dores da inveja alheia. Açores? Isso não existe!
quinta-feira, 10 de maio de 2018
Café Royal LXXI
Higienizar…
“Cortem-lhe a cabeça!” grita a Rainha de Copas ao ver Alice. Esta semana o PS teve o seu momento Rainha de Copas. Pela voz de César, o partido mandou cortar a cabeça a Sócrates. Para além do – porquê agora?, há outro aspecto deste volte-face que importa relevar. Os partidos são feitos por pessoas, mas não se podem confundir com elas. Nem se deve sancionar todo um partido pelas as acções deste ou daquele militante ou dirigente. Mas, as acções dos políticos podem e devem sofrer o nosso julgamento moral e, acima de tudo, a autocrítica dos próprios partidos. Porém, pretender isolar, de forma cínica, a corrupção toda em Sócrates é esconder o sol com a peneira perante aquele que é hoje o maior problema da nossa democracia: a captura de grande parte do sistema político-partidário por interesses corruptos. Os partidos são, ou deveriam ser, esteios ideológicos e éticos da democracia. Cabe, por isso, ao PS, e a todos os outros partidos, expurgarem-se deste mal, reinstituindo valores éticos e ideológicos na sua acção e higienizando a classe política. Não chega cortar, apenas, uma cabeça…
in Açoriano Oriental
“Cortem-lhe a cabeça!” grita a Rainha de Copas ao ver Alice. Esta semana o PS teve o seu momento Rainha de Copas. Pela voz de César, o partido mandou cortar a cabeça a Sócrates. Para além do – porquê agora?, há outro aspecto deste volte-face que importa relevar. Os partidos são feitos por pessoas, mas não se podem confundir com elas. Nem se deve sancionar todo um partido pelas as acções deste ou daquele militante ou dirigente. Mas, as acções dos políticos podem e devem sofrer o nosso julgamento moral e, acima de tudo, a autocrítica dos próprios partidos. Porém, pretender isolar, de forma cínica, a corrupção toda em Sócrates é esconder o sol com a peneira perante aquele que é hoje o maior problema da nossa democracia: a captura de grande parte do sistema político-partidário por interesses corruptos. Os partidos são, ou deveriam ser, esteios ideológicos e éticos da democracia. Cabe, por isso, ao PS, e a todos os outros partidos, expurgarem-se deste mal, reinstituindo valores éticos e ideológicos na sua acção e higienizando a classe política. Não chega cortar, apenas, uma cabeça…
in Açoriano Oriental
quinta-feira, 3 de maio de 2018
Café Royal LXX
Accountability
Peço desculpa ao leitor
pela utilização, não só de um palavrão, mas de um palavrão em inglês. Mas, a
verdade é que não existe, na nossa língua, um termo com a abrangência de
significado deste. E esse facto é, em si mesmo, paradigmático da nossa cultura
e da nossa postura enquanto sociedade, principalmente nos tempos que correm. Accountability é a obrigação que os
indivíduos e as organizações têm de prestar contas de forma transparente e de
assumir responsabilidade pelos seus actos perante a comunidade, principalmente
em questões que tem a ver com o bem público. Nos últimos vinte, trinta anos a
democracia portuguesa foi assaltada por grupos de interesses que espoliaram
desavergonhadamente o país. Embora caiba, obviamente, à Justiça o papel,
fundamental, de repor a justiça, há uma outra responsabilidade de accountability que, se não for
voluntariamente exercida pelos diferentes agentes políticos, económicos,
financeiros, etc., deve ser firmemente exigida pelos cidadãos. A falha em
perceber isto é o primeiro pingo de ácido sulfúrico que acabará por corroer,
por completo, a nossa pueril democracia.
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