quinta-feira, 28 de novembro de 2019

Café Royal CLII


Ir devagar

Vivemos num tempo cada dia mais acelerado. Tudo passa à velocidade do curto instante, da voracidade do consumo, do flash da selfie. A sociedade de consumo tornou-se autofágica, consumindo tudo, como Gargântua, até, quem sabe, um dia, se consumir a si própria. No mundo capitalista então, esta tendência é ainda mais expressiva. Empresas e consumidores vivem na ânsia do novo modelo, do novo produto, da nova grande ideia que irá revolucionar o mundo e fazer chover cifrões e notas de euros sobre as contas bancárias do próximo “unicórnio” digital. Também na política, o rolo compressor do momento mediático arrasa o pensamento, a análise e a estratégia. Os partidos e os governos atropelam-se a si próprios, como estafetas bêbados, tropeçando nos seus próprios pés. Citando o inimitável personagem dos anos 80 Ferris Bueller “a vida passa demasiado depressa, se não pararmos e olharmos em volta de vez em quando, acabamos por perdê-la.” Às vezes o mais importante a fazer na vida é ir devagar, parar para pensar. Olhar o que nos rodeia e perceber que o mais inovador é precisamente preservar o passado, manter uma tradição, cuidar do que nos é dado para que possa, um dia, ser, também, da próxima geração.


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