Interstellar
É Novembro e é Verão. Dias longos de sol quente e águas
lisas e fins-de-tarde de horizontes infinitos e alaranjados, espécie de
recompensa para o Verão que não existiu. A lentidão deste Novembro
contagiou-nos a todos, até aos políticos, que assam presidentes de conselhos de
administração de companhias aéreas como se assassem castanhas. A quietude dos
dias ensolarados só contrasta com a movimentação subterrânea das placas tectónicas
que se faz sentir na emergência dos sismos. Mas, não há urgências este
Novembro. O governo continua a trabalhar, a oposição a pensar, o parlamento a
protelar e os prazos para a conclusão da Casa da Autonomia a prorrogar. Como
vai doce este Novembro. Lá por Lisboa igual. Continuamos imunes à tragédia de
um recém-nascido deitado ao lixo por um sem-abrigo a quem toda a sociedade
trata como lixo. Na assembleia pretendia-se calar quem acabou de ganhar voz
para falar. No governo, o salário mínimo sobe 5% enquanto a produtividade
estima-se que só consiga subir 3%. Lá por fora, Espanha voltou a votar, a
América a Impeachmentar, a Voyager 2 chegou ao espaço interestelar, mas
por aqui e por enquanto o sol de Novembro continua a brilhar.
Sem comentários:
Enviar um comentário