Depois do vírus
Em silêncio, de forma capciosa, sibilina e quase imperceptível,
o vírus foi-se espalhando calmamente, contaminando o mundo com a sua imparável
e definitiva virulência. À iminência da morte seguiu-se o pânico e o caos. Vivemos
agora debaixo da influência do medo, da ascendência do pavor. Não são só os
corpos o que o vírus contamina, é a própria tessitura da sociedade. É a argamassa
da comunidade que é corroída e se esboroa, de dia para dia. Estamos em guerra
contra um inimigo invisível, dizem-nos solenemente os estadistas do momento e decretam
medidas, isolamentos, quarentenas. Fechem as fronteiras, parem o mundo, grita o
coro das redes sociais. Tanto ou mais do que uma crise de saúde pública, esta é
uma crise de representação política e de modelo económico, é uma crise civilizacional.
É todo o mundo que construímos, desde a revolução industrial, que está a desabar
sob os múltiplos efeitos da contaminação. O mundo, tal como o conhecíamos, perdeu
o sentido. Não há normalidade possível porque a normalidade é, ela própria, uma
parte do vírus. A pergunta a que todos teremos de responder é que mundo
queremos que nasça desta morte? Que futuro queremos para amanhã, depois do
vírus?
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