quinta-feira, 26 de março de 2020

Café Royal CLXVII


O Futuro

Sem sobressalto, sem sequer inquietação, abraçámos a quarentena como se fosse um familiar perdido. Isolamento, distanciamento social, estado de emergência, a perda de pequenas liberdades, agora mínimas, mas que um dia serão fundamentais, o próprio confinamento, a tudo anuímos com a naturalidade do medo. O Governo, com o pretexto de combater a morte, matou rapidamente a economia. Milhares de pequenos negócios e empreendedores foram lançados à máquina incineradora do crédito bancário e da prorrogação de prazos. Dizem que estão a salvar vidas, mas omitem que a nossa vida já morreu. As crianças não vão à escola, os adultos não se dirigem ao trabalho, deixamos os cafés, inutilizamos os restaurantes, cancelamos as viagens, as amizades foram encarceradas nos grupos de WhatsApp. Quando tudo isto acabar, na próxima semana ou daqui a um ano (Quem sabe?), nada voltará a ser como antes. Não há regresso. O futuro encarregar-se-á de garantir isso. A nós, a cada um de nós, resta-nos decidir se queremos construir esse futuro, ou se o queremos apenas aceitar, tácita e passivamente, como seguimos fazendo agora com este contagiado presente.


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