Somos ilhas,
nascidas do mar, ancoradas no meio do oceano. Porém, ao longo de quinhentos
anos, viramos sempre as costas a esse mar. Somos povo arreigado à solidez da
terra e, salvo honrosas excepções, receoso da inconstante agitação das águas. Do
mar vinham piratas e invasores, dominadores e cobradores de impostos. O mar era
caminho para exportação de bens e de jovens, via para escoar os produtos da
abundância da terra e as nossas melhores esperanças. O mar foi tempestades,
perigos e outros horrores. Até as nossas igrejas foram erguidas de costas voltadas
para o mar. Hoje, essa infinidade de riquezas é cobiçada por todos e o que para
outras nações é ouro é para nós uma envergonhada prebenda. A orla marítima, as
ondas, os recursos marinhos, a história, todo o imenso mar dos Açores é uma enorme
mina, literalmente. E nós, acabrunhados em cima desse maná, deixamo-nos usurpar
desse colossal activo. Inquieta pensar o que será mais obsceno, se a nossa
incapacidade de tomar o leme a esse processo de aproveitamento das
potencialidades do nosso mar ou o facto dessa prospeção estar a ser feita em burocrático
e duvidoso segredo no mercado livre dos gabinetes governamentais.
Profissionais da indignação
Há 3 horas
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