quinta-feira, 17 de outubro de 2019

Café Royal CXLVI


Harold Bloom

Faleceu, esta semana, aos 89 anos, o mais importante crítico literário da contemporaneidade. Harold Bloom foi o inventor do chamado “Cânone Ocidental” – um corpo literário autónomo e robusto que, desde a antiguidade clássica aos nossos dias, com Shakespeare como vértice, representa o legado cultural da nossa civilização. Esta teoria, muitas vezes mal interpretada, levou a que fosse atacado pelos membros daquilo a que Bloom classificou como as “escolas do ressentimento”. Muitos dos que o atacaram, com base em revisionismos ideológicos e identitários, esqueciam a importância dos seus muitos contributos para a cultura, nomeadamente a tese, apresentada em “The Book of J”, de que os primeiros escritos hebraicos, que compõem o Antigo Testamento, teriam sido escritos por uma mulher. Ou, a sua teoria da “Angústia da Influência”. Numa época em que com 280 caracteres se consegue governar o mundo, Bloom merece, mais do que nunca, ser lembrado, pela sua defesa intransigente do prazer da leitura, e da importância maior que a literatura tem na expressão da condição humana ou, como o próprio referiu com relação a Shakespeare, a “invenção do humano”.


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