Que me perdoem os leitores que vierem ao engano, mas esta não é uma crónica com bolinha vermelha. Esta é uma crónica sobre tolerância e respeito pela sexualidade, a nossa e a dos outros. O carnaval é a celebração dos excessos, por antítese aos jejuns da Quaresma, e está impregnado de sexualidade. Em Portugal, é comum as mulheres despirem-se e os homens vestirem-se… de mulheres. Esta aparente ambivalência sexual dos portugueses é extraordinária. Num país onde, na maioria dos casos, as mulheres são beatas e os homens são canastrões, no entrudo são subitamente acometidos por uma vontade interior de “sair do armário”. As mulheres, que levam a maior parte do ano a esconder o corpo, usam o carnaval para, semidespidas, desfilarem enregeladas ao som de sambas importados. Os homens, que passam o ano a homofobicamente escarnecer de tudo o que seja vagamente transgénero, assaltam os armários das mulheres para se embelezarem com vestidos, maquiagens, saltos altos, pelos a sair dos collants e rolos de papel higiénico a fingir de seios. Mas isto é no Carnaval, porque no resto do ano este é um país onde um político assumir a sua homossexualidade ainda é notícia de 1ª página e 70% dos jovens consideram natural comportamentos violentos na intimidade da relação…
in Açoriano Oriental
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