Acto 1. Cena 1. No palco ornamentado
do seu congresso de investidura, de mãos confiantes no ambão, um líder
partidário clama, aos céus, um “banho de
ética”. Ao mesmo tempo, por detrás do véu, selecciona para capatazes um
autarca, famoso por arregimentar militantes em descampados e prédios devolutos
e uma causídica, famosa por ser discípula da igreja do despautério populista,
que, e não de somenos, está a ser investigada por abuso discricionário de poder,
na adjudicação de prestações de serviços, numa instituição cujo primeiro étimo
é: Ordem. Em simultâneo, mas noutro local, um presidente de um clube desportivo,
depois de exigir, ditatorialmente, aos seus pares (ou serão súbditos?) uma
inqualificável unanimidade de apoio, tem o desplante de impor a censura aos
seus servos, espécie de Torquemada de balneário. Entretanto ainda, no mais
ocidental caldeirão da Europa, um parlamentar, eleito por um partido monárquico,
recorre à greve de fome para exigir comida quente para a mão cheia de utentes
de uma escola que é, literalmente, geminada das respectivas residências de cada
um dos presumíveis beneficiários. Não há qualquer ironia em tudo isto, não há humor,
nem sequer ridículo. Tudo isto está muito para lá de fado. Tudo isto é, tão
somente, triste…
*versão ligeiramente revista...
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