Recentemente, um jovem
casal dinamarquês fez-se fotografar, nu, no topo da grande pirâmide de Gizé,
convidando a ira das autoridades egípcias e o espanto das redes sociais. O
gesto, justificado pelos próprios como artístico, insere-se numa tendência que
consiste em tirar fotos onde as pessoas surgem enquadradas por locais
históricos e/ou paisagens, mais ou menos deslumbrantes (sendo que a parte da
nudez é opcional…). O que motiva os praticantes deste desporto não é a descoberta
dos locais e a sua fruição, ou a aprendizagem que essa descoberta obriga, mas
antes a pulsão egocêntrica do registo da presença, a obsessão do tag e do like. Marcel Proust escreveu que a verdadeira viagem de descoberta
consistia não em procurar novas paisagens, mas em encontrar novos olhos. A
ditadura dos hashtags consiste em
esvaziar por completo o acto de viajar de qualquer réstia de engrandecimento
interior, tornando-o um mero acumular de clicks.
Viajamos já não para aprender, mas para estar. Despimos por completo a
magnificência de Gizé e tornamo-nos no centro da paisagem. É como se o mundo
todo fosse apenas e tão só décor para a próxima selfie, com ou sem cuecas…
Liberdade de imprensa: para além dos rankings
Há 11 horas
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