quinta-feira, 31 de janeiro de 2019

Café Royal CIX

O fosso

Por estes dias, discute-se se Portugal é, ou não, racista. Com mais ou menos espuma na boca, mais ou menos indignação de rede social, ruminamos sobre a violência policial, a vida num bairro de barracas enfeitado de antenas parabólicas, o Mamadou Ba, a cor da pele do primeiro-ministro e outras tantas vulgaridades mundanas como, por exemplo, a culpa comunista pelos bairros degradados. Agostinho da Silva, um dos mais importantes pensadores portugueses do século XX, hoje infeliz e injustamente esquecido, teorizou sobre a nacionalidade da língua e a possibilidade de uma identidade colectiva que abarcasse os falantes da língua portuguesa fossem eles brancos, pretos, ou outros. Uma nacionalidade lusófona, possível pela existência de uma cultura de tolerância, que teve a sua expressão maior na miscigenação que marcou de forma absolutamente determinante a história de Portugal e dos portugueses no mundo, desde o interior da Amazónia ao extremo de Timor. O mal nacional não é, nunca foi, o racismo. O que corrói o país é outra coisa: é o fosso profundo entre ricos e pobres, entre os remediados do Jamaica e os “chiques” da Quinta da Marinha…
 

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