Passeando
nas cumeeiras, olhando o mar e a ilha, berço de cores, horizonte e sonho, recordo
uma citação sábia: “não herdamos a terra dos nossos pais, apenas a pedimos
emprestada aos nossos filhos.” Esta frase nativa é uma pérola de erudição e
sensatez. E recordo-a pelo que transporta de aviso, de responsabilidade, pela
preservação do sítio em que nascemos, que outros antes de nós amaram e que
temos a obrigação de manter para os que vierem depois. Aqui, na ilha,
encapsulados de verde e oceano, embriagados pela fertilidade da terra, somos
muitas vezes levados a pensar que nada há, para além das mais poderosas forças
da natureza, que a possam destruir. Olhando a ilha, em toda a sua magnânima e
esplendorosa dimensão, esquecemos, muitas vezes, que somos nós próprios, por
acção ou omissão, os principais agentes da sua destruição. Nesta terra que um
slogan governamental diz ser “certificada pela natureza” somos nós, colectivamente,
quem mais trabalha para o seu fim. O mais recente absurdo é a intenção de construir uma
incineradora. Absurdo ambiental,
económico, turístico, de saúde pública, político e geracional. No futuro, o
tempo e a terra julgarão, olhando para trás, esse legado. Pelos nossos filhos,
se já não por nós, incineremos a incineradora!
quinta-feira, 26 de janeiro de 2017
quinta-feira, 19 de janeiro de 2017
Café Royal III
Trump®
É amanhã a
inauguração de Donald Trump, 45º Presidente dos E.U.A. Para lá do homem, da sua
espampanante personalidade e dos muitos paralelismos feitos com outras épocas
da História, em que figuras igualmente bizarras e polémicas chegaram, por vias
mais ou menos democráticas, ao comando de nações, há um aspecto, totalmente
novo, que convém salientar: Trump como marca e a sua aliança com as redes
sociais para a autopromoção. Os demagogos do passado construíram-se pela
retórica pública, em grandiloquentes discursos perante plateias embevecidas.
Mas, para eles, a ideologia e o conteúdo da mensagem eram tão importantes como
o cenário. Hoje, Trump apresenta-se em 140 caracteres, via Twitter, como uma espécie
de caixa de ressonância de frases bombásticas, mas vazias de sentido. O triunfo
de Trump é o triunfo da sua marca. É a ascensão, ao mais alto cargo, da
mentalidade da venda e do lucro, em que o importante não é mais o conteúdo, mas
a embalagem, o rótulo, o slogan… Trump é (e só) marca, uma espécie de “Coca-Cola”
política, capitalisticamente obcecada em dominar o mundo, ao melhor preço. Bem-vindos
ao tempo em que até as nações são mero produto, em saldo no mundo digital.
quinta-feira, 12 de janeiro de 2017
Café Royal II
Obrigado
Sou filho da revolução, nunca vivi a ditadura. Não sofri o autoritarismo, a censura, a PIDE, a tortura, o exílio… nestes quarenta e dois anos a minha vida foi feita com liberdade e em democracia. Devo-o, para além dos militares de Abril e dos muitos outros homens e mulheres que ajudaram a fazer nascer o Portugal democrático, a um homem que se destacou dos demais. Pela sua enorme coragem e frontalidade, pela sua sagacidade e inteligência política. Pela rara capacidade de perceber o tempo, o momento político, e saber estar no lado certo da História. Pela permanente luta pelos valores fundacionais do socialismo e pelo que de mais essencial há na visão humanista da vida – as liberdades e a defesa, permanente, intransigente e perseverante, da igualdade e da fraternidade. Esses valores antigos, mas ao tempo tão esquecidos, foram tornados contemporâneos, no Portugal amordaçado de então, pela sua visão e acção política. Devo-lhe, devemos-lhe todos, essa dádiva frágil, principio de quase tudo, chamada: Liberdade. Do ponto de vista pessoal a sua presença foi sempre uma constante na minha vida.
Pela Liberdade, pela Democracia, pelo exemplo humano, obrigado Mário Soares.
Sou filho da revolução, nunca vivi a ditadura. Não sofri o autoritarismo, a censura, a PIDE, a tortura, o exílio… nestes quarenta e dois anos a minha vida foi feita com liberdade e em democracia. Devo-o, para além dos militares de Abril e dos muitos outros homens e mulheres que ajudaram a fazer nascer o Portugal democrático, a um homem que se destacou dos demais. Pela sua enorme coragem e frontalidade, pela sua sagacidade e inteligência política. Pela rara capacidade de perceber o tempo, o momento político, e saber estar no lado certo da História. Pela permanente luta pelos valores fundacionais do socialismo e pelo que de mais essencial há na visão humanista da vida – as liberdades e a defesa, permanente, intransigente e perseverante, da igualdade e da fraternidade. Esses valores antigos, mas ao tempo tão esquecidos, foram tornados contemporâneos, no Portugal amordaçado de então, pela sua visão e acção política. Devo-lhe, devemos-lhe todos, essa dádiva frágil, principio de quase tudo, chamada: Liberdade. Do ponto de vista pessoal a sua presença foi sempre uma constante na minha vida.
Pela Liberdade, pela Democracia, pelo exemplo humano, obrigado Mário Soares.
sábado, 7 de janeiro de 2017
quinta-feira, 5 de janeiro de 2017
Café Royal
Nota de Abertura
Em “A Ideia de Europa” George Steiner exalta a importância que os cafés, e a cultura a eles subjacente, tiveram na construção de um ideário europeu. De Lisboa a Budapeste, os cafés foram um ambiente privilegiado para o debate de ideias, a liberdade de expressão, a transmissão de conhecimento, funcionando como uma espécie de elo identitário daquilo que viria a ser uma ideia de Europa. Uma Europa fundamentalmente humanista e liberal. Agora que assistimos, em ecrãs tácteis, em formato meme, ao baptismo do séc. XXI, em que o debate de ideias é subjugado pela ditadura do algoritmo, pela reemergência de todo o tipo de radicalismos, populismos e conformismos, torna-se cada vez mais importante relembrar esses valores e essa forma de ver a própria Europa. Mesmo aqui, neste Café Royal, lembremos que não estamos isolados do mundo, que importa não abdicar de fazer ouvir a nossa voz, defendendo as liberdades individuais, pensemos a forma como nos posicionamos na vida, procurando o bem e combatendo as inúmeras corrupções que hoje destroem os verdadeiros valores europeus. Citando George Santayana, “aqueles que não se conseguirem lembrar do passado estão condenados a repeti-lo.” E nunca estivemos tão perto de repetir dolorosamente o passado como hoje.
texto da primeira crónica no Açoriano Oriental
Em “A Ideia de Europa” George Steiner exalta a importância que os cafés, e a cultura a eles subjacente, tiveram na construção de um ideário europeu. De Lisboa a Budapeste, os cafés foram um ambiente privilegiado para o debate de ideias, a liberdade de expressão, a transmissão de conhecimento, funcionando como uma espécie de elo identitário daquilo que viria a ser uma ideia de Europa. Uma Europa fundamentalmente humanista e liberal. Agora que assistimos, em ecrãs tácteis, em formato meme, ao baptismo do séc. XXI, em que o debate de ideias é subjugado pela ditadura do algoritmo, pela reemergência de todo o tipo de radicalismos, populismos e conformismos, torna-se cada vez mais importante relembrar esses valores e essa forma de ver a própria Europa. Mesmo aqui, neste Café Royal, lembremos que não estamos isolados do mundo, que importa não abdicar de fazer ouvir a nossa voz, defendendo as liberdades individuais, pensemos a forma como nos posicionamos na vida, procurando o bem e combatendo as inúmeras corrupções que hoje destroem os verdadeiros valores europeus. Citando George Santayana, “aqueles que não se conseguirem lembrar do passado estão condenados a repeti-lo.” E nunca estivemos tão perto de repetir dolorosamente o passado como hoje.
texto da primeira crónica no Açoriano Oriental
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