quinta-feira, 26 de janeiro de 2017

Café Royal IV

Incineremos

Passeando nas cumeeiras, olhando o mar e a ilha, berço de cores, horizonte e sonho, recordo uma citação sábia: “não herdamos a terra dos nossos pais, apenas a pedimos emprestada aos nossos filhos.” Esta frase nativa é uma pérola de erudição e sensatez. E recordo-a pelo que transporta de aviso, de responsabilidade, pela preservação do sítio em que nascemos, que outros antes de nós amaram e que temos a obrigação de manter para os que vierem depois. Aqui, na ilha, encapsulados de verde e oceano, embriagados pela fertilidade da terra, somos muitas vezes levados a pensar que nada há, para além das mais poderosas forças da natureza, que a possam destruir. Olhando a ilha, em toda a sua magnânima e esplendorosa dimensão, esquecemos, muitas vezes, que somos nós próprios, por acção ou omissão, os principais agentes da sua destruição. Nesta terra que um slogan governamental diz ser “certificada pela natureza” somos nós, colectivamente, quem mais trabalha para o seu fim. O mais recente absurdo é a intenção de construir uma incineradora.  Absurdo ambiental, económico, turístico, de saúde pública, político e geracional. No futuro, o tempo e a terra julgarão, olhando para trás, esse legado. Pelos nossos filhos, se já não por nós, incineremos a incineradora!

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