quinta-feira, 17 de agosto de 2017

Café Royal XXXII

Agosto II

Por entre as intermitências do tempo apenas o mar se faz constante. O barulho do mar. O barulho das ondas, que quebram em estrondo nas rochas e invadem a casa de som. De dia, no balcão, sob a sombra do alpendre, no sopro fresco do vento. De noite, entrando sorrateiras, por entre as frinchas das portadas, no escuro do quarto. As intermitências do clima e o barulho do mar, sempre presente. Olhando o Ilhéu pergunto-me se este será constante, ou antes uma permanência, como um ensejo rochoso de perenidade. Quando tudo entre mim e o horizonte é mutável, breve, frágil como a espuma das vagas encapeladas na superfície do mar. Pergunto-me da permanência da garça que pousa todas as tardes no calhau em frente do balcão, que eternidade procurará o bico da garça nas pedras, que imortalidade terá a sua pose elegante para lá da memória impressa no meu olhar… Ou então, serei eu a intermitência? E o tempo, o clima, permanentemente variável, será mais eterno do que o meu olhar sobre ele? Olhando o barco do ilhéu vejo sempre as mesmas pessoas, mesmo sabendo que só barco e mestre são os mesmos. Passam os dias na intermitência de Agosto, entre o calor, a humidade, o sol e a neblina, passam perante a solidez dos muros e das madeiras da casa e a cândida fragilidade do meu olhar e disto tudo sobreviverá apenas o mar, talvez a garça, o ilhéu, o céu e, quem sabe, o horizonte…

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