Por entre as
intermitências do tempo apenas o mar se faz constante. O barulho do mar. O
barulho das ondas, que quebram em estrondo nas rochas e invadem a casa de som.
De dia, no balcão, sob a sombra do alpendre, no sopro fresco do vento. De noite,
entrando sorrateiras, por entre as frinchas das portadas, no escuro do quarto. As
intermitências do clima e o barulho do mar, sempre presente. Olhando o Ilhéu
pergunto-me se este será constante, ou antes uma permanência, como um ensejo
rochoso de perenidade. Quando tudo entre mim e o horizonte é mutável, breve,
frágil como a espuma das vagas encapeladas na superfície do mar. Pergunto-me da
permanência da garça que pousa todas as tardes no calhau em frente do balcão,
que eternidade procurará o bico da garça nas pedras, que imortalidade terá a
sua pose elegante para lá da memória impressa no meu olhar… Ou então, serei eu
a intermitência? E o tempo, o clima, permanentemente variável, será mais eterno
do que o meu olhar sobre ele? Olhando o barco do ilhéu vejo sempre as mesmas
pessoas, mesmo sabendo que só barco e mestre são os mesmos. Passam os dias na
intermitência de Agosto, entre o calor, a humidade, o sol e a neblina, passam
perante a solidez dos muros e das madeiras da casa e a cândida fragilidade do
meu olhar e disto tudo sobreviverá apenas o mar, talvez a garça, o ilhéu, o céu
e, quem sabe, o horizonte…
Profissionais da indignação
Há 3 horas
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