Senhor Presidente da República, Professor Marcelo Rebelo de Sousa. Seja
S.Exa. bem-vindo à ilha de São Miguel. É com agrado que esta ilha o recebe,
confiando que desta convivência possa S.Exa. levar consigo um mais aprofundado
conhecimento da realidade destas terras que são parte indelével daquilo que faz
de Portugal grande aos olhos do mundo. É precisamente por isso que não posso
deixar de me dirigir a S.Exa. para lamentar profundamente o momento da sua
visita. Certamente S.Exa. saberá que decorre nestes mesmos dias, na Guiana
Francesa, a XXII Conferência de Presidentes das Regiões Ultraperiféricas da
União Europeia. Este relevante fórum europeu é de fulcral importância para os
Açores, por maioria de razão para Portugal, e ocorre num momento de particular pertinência
para a Europa, comprovado pela presença do Presidente da Comissão e do
Presidente Francês nesta reunião. Cumpre louvar a boa educação do Presidente do
Governo Regional em abdicar de estar presente na CRUP para o receber. Mas cumpre,
também, censurar a falta de respeito de uma presidência que, não só, divide os
Açores ao meio, como não sabe ver que é mais importante para estas ilhas a CRUP
do que S.Exa. vir dar aulas e comer queijadas, por mais saborosas que sejam as nossas
maravilhosas Queijadas da Vila. Atenciosamente
quinta-feira, 26 de outubro de 2017
quinta-feira, 19 de outubro de 2017
Café Royal XLII
O Bem Público
Valor supremo num Estado democrático é o bem público. Valor
sagrado para a República em que o bem de todos os cidadãos, iguais aos olhos do
Estado, é principio e fim da razão de toda a governação. Os que são eleitos são-no
com essa responsabilidade, de agir para e zelar pelo bem público. Mandaria,
também, a ética que esse fosse, quase como um sacerdócio, o desígnio último de
quem ocupe cargos públicos. Infelizmente, essa vocação parece hoje cada vez
mais alheada dos nossos políticos. A acusação a José Socrates, escândalo de
proporções dantescas de promiscuidade entre o interesse público e privado é,
independentemente da culpabilidade dos envolvidos, um caso que mina
profundamente a solidez do regime precisamente naquela que deveria ser a base
fundamental do mesmo: a confiança depositada pelos cidadãos nos seus eleitos e
a responsabilidade destes em cuidar pelo bem de todos. Também, nessa tragédia
de proporções bíblicas a que assistimos, outra vez, nos últimos dias, do país
em chamas, é a fé das pessoas na governação que se vê, talvez
irremediavelmente, destroçada. Por cá, foi desmascarada uma rede de corrupção,
naquilo que poderá ser o levantar do véu de uma vasta epidemia de corrosão dos
interesses públicos. A obrigação dos nossos eleitos é resgatar de novo para a
governação o primado do Bem Público, antes que seja tarde de mais…
quinta-feira, 12 de outubro de 2017
Café Royal XLI
As pessoas
Sobre a “questão” catalã, há dois aspetos que importa destacar. 1.º O
papel das “esquerdas” – os ideais progressistas são, iminentemente, universalistas,
(veja-se a Internacional Socialista). Balcanizar estes ideais em problemáticas geográficas
ou, mais grave ainda, nacionalistas, é uma contradição e provoca uma erosão da
sua condição humanista, condenando-os a mero contraponto regional dos imperialismos
capitalistas que deviam combater. 2º A União Europeia – ao se agarrar, de forma
cega e surda, a uma ideia de estados-nação, inamovíveis e imutáveis, aumenta o
fosso que a separa dos cidadãos colocando, ainda mais em dúvida, aos olhos das
pessoas, a sua utilidade. A discussão sobre a independência da Catalunha, ao
tornar-se numa batalha entre progressistas e conservadores, representa uma
sul-americanização do debate político europeu, em que duas ideologias
diferentes, sob a bandeira da autodeterminação, lutam não já por um ideário político
concreto, mas apenas por um quinhão geográfico de poder. Porém, é aqui, na síntese
destes dois dilemas e pela definição de uma nova Europa de cidadãos e de regiões,
que poderá nascer uma união com instituições verdadeiramente próximas das
pessoas. Isto sim seria um ideal progressista, mas a mera independência não…
quinta-feira, 5 de outubro de 2017
Café Royal XL
Eu acuso!
“Num arquipélago
oceânico com uma tradição balnear multissecular, a regulamentação das questões
relacionadas com a utilização balnear das suas águas, em especial das águas
costeiras, assume uma particular importância na defesa da segurança e saúde das
pessoas e na criação de condições de promoção das atividades económicas ligadas
ao turismo e ao mar.” Este é o primeiro paragrafo do DLR n.º 16/2011/A, que “estabelece
o regime jurídico da gestão das zonas balneares, da qualidade das águas (…) e da
prestação de assistência nos locais destinados a banhistas”. Ora, nos últimos
dias, dois turistas estrangeiros morreram nas praias da Ribeira Grande. A
responsabilidade por estas mortes é da Câmara e do Governo. E é-o porque são
estas entidades que têm por obrigação definir as zonas e as épocas balneares,
bem como a sua segurança. Mas, por razões meramente financeiras, optaram por um
período ridículo, de Junho a Setembro, (algumas câmaras menos ainda!) reduzindo
ao mínimo a despesa com segurança e limpeza. Estas opções são criminosas! A
verdade é que os Açores não têm uma “tradição balnear multissecular”. Se tivessem,
existiria já um corpo permanente de nadadores-salvadores, tutelado pela
Proteção Civil, com a responsabilidade de assegurar, o ano todo, que não haja
mortes, não pelo turismo, mas pelas pessoas…
in Açoriano Oriental
Subscrever:
Mensagens (Atom)