quinta-feira, 22 de novembro de 2018

Café Royal XCIX

"Sair da ilha

…é a pior maneira de ficar nela!” Sentenciou Daniel de Sá em Ilha Grande Fechada. Esta frase lapidar sobreviverá ao romance e, injustamente, ao Escritor que foi Daniel de Sá. Embora seja esse, enfim, o desígnio dos grandes, serem perpetuados pelas frases e universais pela eternidade das palavras. O romance é um magistral retrato da condição açoriana, principalmente na fixação que faz de um certo modo de ser ilhéu. Logo a abrir, Daniel de Sá assinala: "Uma ilha grande, fechada, que durante muito tempo só se abriu para deixar sair gente". Este é, talvez, o mais acertado retrato da “açorianidade”, como lhe chamou Nemésio. Uma persona que assenta na aceitação, quase monástica, da clausura da ilha. Como se o horizonte, o mar, fossem aprisionamento em vez de livre navegação. Desde os primórdios do povoamento que as ilhas se cerraram sobre si próprias. E, mesmo nos curtos períodos de cosmopolitismo, desde Angra dos Filipes, à Horta dos Clippers, passando pelo São Miguel de oitocentos, com as suas pequenas elites terratenentes abastadas de laranja, que o essencial de um certo ser açoriano é a sua recusa em abraçar o Mundo. E, até, em se deixar abraçar por ele…
 

1 comentário:

Nuno Barata disse...

Bendita a hora em que não estavas inspirado.
Abraço