Da abstenção
Os partidos têm pânico do desconhecido e as eleições, por
natureza, são uma incógnita. Para os directórios partidários, as noites
eleitorais representam horas intermináveis de tensão e angústia. Tomados por
esse medo, os partidos inventaram as carrinhas para ir buscar eleitores e
outras habilidades do mesmo teor, que inquinam o principal pilar da democracia
– o voto livre. Garantir o mínimo de votos necessários e apostar na abstenção
tornou-se um seguro de vida para os partidos. A abstenção transformou-se, ela
própria, num instrumento político. Quanto maior ela for, mais garantias têm os
partidos sobre os resultados e, normalmente, quem está no poder beneficia com a
abstenção. Votar é um dever e a abstenção é um direito de qualquer cidadão
livre. Porém, uma sociedade madura tem de exigir, a si própria, governos
legitimados por maiorias sólidas. De todas as ideias, que por estes dias vão inundar
o debate político, talvez a mais interessante seria não validar eleições com
abstenções acima de 50%. Se acontecer, repetem-se as eleições, até que os
partidos consigam verdadeiramente cativar as pessoas, sem ser só os seus aparelhos
e dependentes, levando-as a escolher e a votar, livremente.
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