Polarização
Os sinais estavam todos lá, mas, fiéis aos nossos
proverbiais brandos costumes, achámos que estávamos imunes às pandemias do
momento. Populismo, extremismo, xenofobia, autoritarismo e toda uma outra
panóplia de vírus, que se expandiram pelo mundo, nas últimas décadas, em
proporção maior que a do Coronavirus, aos quais nós, uns à beira-mar plantados,
outros no meio do mar alçados, julgámos, placidamente, estar a salvo de
qualquer risco de contaminação. Eis que um dia, uma sondagem dá 6% ao partido
da extrema-direita, um jogador de futebol é expulso do campo pela selvajaria
xenófoba de uma turba de energúmenos e o país político e social entrincheira-se
na discussão maniqueísta e estéril da “dignidade” da morte. E, de repente o país
deixou de ter um centro para ter dois polos: o branco e o preto, os bons e os
maus, os que defendem a vida até ao último suspiro e os que querem exterminar
todos os velhinhos. A democracia é o sistema político que nos impele à
concertação, ao diálogo e, acima de tudo, ao aceitar do outro. A verdadeira
Democracia não é a hegemonia das maiorias, mas a protecção que dá às minorias
que vivem dentro de si. Perder isso é perdermo-nos a nós próprios.
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