Náufragos
Completa-se hoje um mês de um estado de emergência que se vai
prolongar por tempo ainda indeterminado. Na Região, 35 dias de confinamento.
Pelos ecrãs assistimos, estupefactos, ao desenrolar caótico da pandemia, a escassez
de meios, os cercos sanitários, a tragédia dos lares de idosos, as mortes, o
apagar aflitivo de milhares de empresas, milhões de desempregados e o dealbar
da maior crise económica e social das nossas vidas. O governo vai tentando gerir
o pânico, numa roda viva de especialistas e curvas e promessas vazias. Por cá, a
Autoridade de Saúde, curvada sobre o seu pullover fúcsia, vai debitando diariamente
números, estatísticas, ordens vãs e a certeza de que ninguém sabe realmente o
que fazer. Entretanto, no meio do golpe de marketing político de um avião da
SATA ir à China em busca de equipamentos de protecção, esse mesmo governo
recusou prestar socorro a um navio com 700 seres humanos a bordo, negou
friamente, àqueles náufragos, um porto de abrigo e a mais básica ajuda
humanitária, sem hesitação, sem dó, sem compaixão. Sem que se ouvisse sequer um
sobressalto cívico, tão ocupados andamos a discutir o uso de máscaras. É nisto
que nos estamos a tornar, e isto só agora começou…
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