Toda a diferença
A minha geração será a última que poderá afirmar, sem receio
de erro, que viveu efectivamente a sua juventude. Nos últimos cinquenta anos, só
duas gerações, a dos meus pais, nos frios e libertinos anos 50/60, e a minha,
nos glamorosos e eletrificados anos 80/90, viveram plenamente essa idade que Proust
classificou como “a única em que sempre se aprende alguma coisa”. Dai para
cá, neste dealbar caótico do séc. XXI, aos jovens foi-lhes roubada a liberdade
e a angústia da verdadeira adolescência. E se, nas primeiras décadas do século,
esse furto foi imposto por razões económicas, hoje, na Era do Covid, é por
imposição administrativa do crime de sociabilização que toda uma geração se vê
privada dos seus anos mais ricos. De todas as devastadoras consequências desta crise
talvez essa seja a mais amargurada e aquela que, na longa maratona da vida, venha
a ter consequências mais profundas. Para quem já cruzou o meridiano da existência,
um Verão é nada, mas para os jovens, que vivem exultantes entre o céu e o
inferno, um dia de praia, uma noite de luar, um olhar ou um toque de mão na
pele bronzeada, toda essa agridoce efervescência do Verão, é tudo! E perder
isso, nem que seja só um ano, fará sempre toda a diferença.
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