A Retaguarda
Desde o início da pandemia que ouvimos os governantes a usar
enfaticamente a metáfora da guerra para descrever esta crise e, principalmente,
para justificar a maioria dos seus actos. O maléfico vírus é o inimigo.
Profissões como varredores, empregados de supermercado, forças de segurança,
enfermeiros e médicos, tantas vezes esquecidas, formam a linha da frente. Reuniões
à porta-fechada como conselhos de guerra. E, as nossas vidas, como carne para
canhão, à mercê das ordens de Autoridades Sanitárias. Sartre escreveu que “quando
os ricos fazem a guerra são os pobres que morrem”. Esta semana vários dados
estatísticos vieram dar razão ao filósofo existencialista francês. O precipício
do PIB e a sua queda de 16% no semestre. A alta mortalidade do mês de Julho da
qual apenas 1.5% foi por causa do Covid. Ou a hecatombe do turismo com
variações negativas acima dos 90%. Ofuscados pela vã glória dessa luta que julgam
travar, os decisores políticos lançaram-se cegamente nesse combate invisível deixando,
à revelia da mais básica estratégia, totalmente desprotegida, a retaguarda onde
as principais batalhas, contra um vírus com uma taxa de mortalidade de 5%, estão
definitiva e desesperadamente a ser perdidas.
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