quinta-feira, 20 de agosto de 2020

Café Royal CLXXXVIII

A Tourada

Já ninguém aguenta o Covid, mas com a tourada em que se transformou a pandemia nos Açores, a piada é demasiado fácil para deixar passar. Tiago Lopes, que era um mero peão de brega, chegou a novilheiro e foi subindo na hierarquia a ponto de querer ser matador, cortando aqui e ali a eito, ao ritmo de passodobles e com verónicas de capote e passes de muleta. O problema é que ninguém lhe compreende a arte muito menos a justeza da estocada. Já o cavaleiro Vasco Cordeiro vai dando voltas ao touro, desacertando as bandarilhas ora de frente ora em violino e evitando a esquerda, mas sem música ou sorte na lide e correndo mesmo o risco de, no futuro, se ver ele próprio na pele do touro tal é a desgraça que se aproxima. Já nós, trabalhadores e empresários, somos os forcados amadores que damos o peito à besta na pega da catástrofe económica. Sendo que o mais certo é que a pega acabe de cernelha que pelo agigantar da braveza do animal não há quem se lhe agarre aos cornos. E, o mais provável é que no final não haja volta à arena e, todos, Matador, Cavaleiro e Forcados, manquejando e esfarrapados, sairão de cena sem glória nem aplauso ao som de uma triste e amargurada marcha fúnebre monumental.

in Açoriano Oriental

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