quinta-feira, 17 de dezembro de 2020

Café Royal CCV

Do fingimento

A verticalidade é um atributo inútil em política. Citando George Orwell, o mais actual dos escritores mortos: “a linguagem política destina-se a fazer com que a mentira soe como verdade” e nunca um político foi reconhecido, ou desprezado, pela coerência do seu discurso. No culminar da sua elocução de encerramento do debate do Programa de Governo, José Manuel Bolieiro, tropeçando desastradamente por entre as muitas incongruências do documento, asseverou o compromisso de recorrer a dívida da região para apoiar a economia devastada pelos ventos da pandemia. Esta semana, os meritíssimos juízes do Tribunal de Contas vieram condenar a insidiosa promessa do político com o rotundo não do limite da lei. O que importa a integridade, ou a retidão das palavras, ou, sequer, as promessas inflamadas do teatro eleitoral? Tudo é farsa e fingimento, no inabalável púlpito governamental. Salvar a SATA, mas queimá-la em público. Condenar a Incineração, mas assoprá-la, talvez, no recato do gabinete. Clamar por menos “tachos” e menos gastos, mas aceitar, desventuradamente, o maior Governo da história da autonomia. Voltando a Orwell, “num tempo de engano, dizer a verdade é um acto revolucionário” …

in Açoriano Oriental

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