Do fingimento
A verticalidade é um atributo inútil em política. Citando
George Orwell, o mais actual dos escritores mortos: “a linguagem política
destina-se a fazer com que a mentira soe como verdade” e nunca um político foi
reconhecido, ou desprezado, pela coerência do seu discurso. No culminar da sua
elocução de encerramento do debate do Programa de Governo, José Manuel
Bolieiro, tropeçando desastradamente por entre as muitas incongruências do documento,
asseverou o compromisso de recorrer a dívida da região para apoiar a economia devastada
pelos ventos da pandemia. Esta semana, os meritíssimos juízes do Tribunal de
Contas vieram condenar a insidiosa promessa do político com o rotundo não do
limite da lei. O que importa a integridade, ou a retidão das palavras, ou,
sequer, as promessas inflamadas do teatro eleitoral? Tudo é farsa e fingimento,
no inabalável púlpito governamental. Salvar a SATA, mas queimá-la em público.
Condenar a Incineração, mas assoprá-la, talvez, no recato do gabinete. Clamar
por menos “tachos” e menos gastos, mas aceitar, desventuradamente, o maior Governo
da história da autonomia. Voltando a Orwell, “num tempo de engano, dizer a verdade
é um acto revolucionário” …
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