O lugar do amor
Neste opressivo e desesperadamente longo deslaçamento que
nos foi dado viver. Esta despótica ditadura do microscópico, do invisível e
horrendo medo. Neste “novo normal” de distanciamento, impedimento, higienização
e desafeto. Nesta absoluta desumanização que tomou o Mundo, ergamos as nossas
taças num brinde à Vida! Celebremos os afetos, os abraços, os beijos quentes e
o toque doce e infinitamente frágil dos avós, a alegria límpida das crianças. Celebremos
a ligação dos corpos, os laços, celebremos as pessoas e o que nos faz singularmente
humanos. Soltemos, do interior da alma, um grito, do mais íntimo do ser um brado,
pelas amizades que se afastaram e os lutos que se esconderam. Rejeitemos, nem
que por um dia, a solidão perentória dos decretos e dos isolamentos e a tirania
das autoridades genéricas e sanitárias e a nova inquisição dos dogmas científicos.
Todos os gestos que ficaram por trocar troquemo-los agora. Recuperemos a
existência. Reconquistemos, hoje, a convivência, o toque, o carinho e a ternura
do contacto físico, a essência da vida e tudo o que é indelevelmente humano. Reconquistemo-nos,
enfim, a nós e ao lugar primeiro e puro do amor.
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