quinta-feira, 24 de dezembro de 2020

Café Royal CCVI

O lugar do amor

Neste opressivo e desesperadamente longo deslaçamento que nos foi dado viver. Esta despótica ditadura do microscópico, do invisível e horrendo medo. Neste “novo normal” de distanciamento, impedimento, higienização e desafeto. Nesta absoluta desumanização que tomou o Mundo, ergamos as nossas taças num brinde à Vida! Celebremos os afetos, os abraços, os beijos quentes e o toque doce e infinitamente frágil dos avós, a alegria límpida das crianças. Celebremos a ligação dos corpos, os laços, celebremos as pessoas e o que nos faz singularmente humanos. Soltemos, do interior da alma, um grito, do mais íntimo do ser um brado, pelas amizades que se afastaram e os lutos que se esconderam. Rejeitemos, nem que por um dia, a solidão perentória dos decretos e dos isolamentos e a tirania das autoridades genéricas e sanitárias e a nova inquisição dos dogmas científicos. Todos os gestos que ficaram por trocar troquemo-los agora. Recuperemos a existência. Reconquistemos, hoje, a convivência, o toque, o carinho e a ternura do contacto físico, a essência da vida e tudo o que é indelevelmente humano. Reconquistemo-nos, enfim, a nós e ao lugar primeiro e puro do amor.   

in Açoriano Oriental

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