Do Futuro
“Diz-me que isto é o futuro, / não acreditarei em ti.”,
escreveu Louise Glück. Tal como o tempo o futuro morre em cada segundo que passa.
Shakespeare, o inventor do humano, na formulação luminosa de Bloom, explicou
que “o futuro não se encontra nas estrelas, mas em nós próprios”. É no
presente que o futuro se fabrica, dia após dia, ininterruptamente. E, “o
futuro é tão incerto como o presente” cantou Whitman, enquanto cofiava
vagarosamente a espessa barba e olhava cintilante o Universo em cada folha de
relva. Já Kierkegaard, jovem rapaz existencialista, ensinou-nos que “a vida
só pode ser compreendida se olharmos para trás, mas deve ser vivida seguindo em
frente”. Ao que Pessoa, depois de um desassossegado bagaço, retorquiu, “Vivo
sempre no presente. O futuro, não o conheço. O passado, já não o tenho.” Mas,
o que é o presente se não uma fugaz memória do que passou e anseio esperançoso
e angustiado do que virá? Que futuro encontraremos amanhã que não seja, já hoje,
uma levíssima cinza do passado, flutuando, suspensa, na brisa languida do
presente? Só o sonho, ou o amor, sobrevivem às horas e às estações e ao
Universo que se expande, negro, infinito e absoluto. Só no sonho e no amor o
futuro existe, verdadeiramente…
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