quinta-feira, 18 de março de 2021

Café Royal CCXVIII

A nova laranja

Os Açores sempre viveram da riqueza do solo. Desde o pastel, ao santificado reinado da vaca leiteira, passando pelos cereais e a laranja, até, nos nossos dias, em que o boom do Turismo se fundou nas características naturais das ilhas, as principais fundações do edifício produtivo açoriano estiveram sempre solidamente alicerçadas no seu afortunado chão. O período de ouro da chamada “época da laranja” teve o seu lento ocaso com uma crise no lado da oferta com o ataque da cochonilha, que foi, paulatinamente, corroendo a produtividade dos pomares e a qualidade do fruto. A praga da coccus hesperidum foi, por assim dizer, a poda final no comércio da laranja. Hoje, porém, os Açores vivem, novamente, uma encruzilhada perigosa, desta vez com uma dupla crise, mas do lado da procura, com o penoso e arrastado fim da lavoura, cujos mercados vão diminuindo ao mesmo ritmo que a concorrência vai aumentando, e a obliteração dos fluxos do Turismo, às mãos da insanidade da Covid. Mas, se no sec. XIX, houve engenho para substituir a laranja pelo ananás, nos dias que correm não se vislumbra nem energia, nem talento, nem tão pouco um “fruto” alternativo que possa produzir essa mudança.

in Açoriano Oriental

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