A malandragem
A saga rocambolesca da Azores Park, em toda a sua garotagem,
incúria e desonestidade, é mais um daqueles assuntos que retratam de forma fiel
aquilo que melhor distingue a vida pública nacional, tal como o bacalhau marca
a nossa gastronomia – a malandragem. Estão lá todos os ingredientes habituais:
suspeitas de corrupção; ameaças; conluios; gestão danosa; incompetência; favorecimento;
envolvimento dos dois maiores partidos políticos; ligações obscuras entre a
política e o futebol; eventual dolo de detentores de altos cargos públicos e
dinheiro, muito dinheiro, com proveniências, portadores e destinos ainda por
explicar. Num imenso rol de interligações sombrias entre o público e o privado.
Independentemente do que venha a ser provado em tribunal, há um julgamento,
político, que se pode, desde já, fazer: o dos executivos que geriram a Câmara Municipal
de Ponta Delgada ao longo de todo este processo. Os americanos têm uma
expressão que se aplica neste caso como uma luva: “not on my watch”. O que
sabemos hoje, pelo que já veio a público, é que tudo se passou no turno deles e
um deles é, agora, o nosso Presidente Amigo. Resta saber se tudo aconteceu por ignorância,
por desleixo ou por manifesta má-fé.
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