Após o sonho
adolescente de querer ser cineasta dei por mim a frequentar os bancos de um
curso de História. Devo confessar que o meu zelo académico era reduzido, passei
mais horas nas mesas da Tasca d’O Lagarto do que nas cadeiras da faculdade, mas
o gosto intrínseco pelos livros tornou-me a licenciatura relativamente fácil.
Estudar História é um bom fundamento para olhar o mundo. Perceber as
entrelinhas dos atos dos homens permite olhar para lá da mera manchete dos
acontecimentos. Quem olhe em seu redor procurando compreender o seu tempo, o
seu mundo, mesmo não ligando à sucessão e encadeamento dos eventos, não pode
deixar de compreender o quão iminentemente frágil é o nosso momento na História.
A instabilidade política global, o descrédito das instituições, o alheamento
dos cidadãos, a emergência dos populismos, a clivagem religiosa, a desagregação
geoestratégica, um pouco por todo o lado se pressente a ruína do tempo
histórico. Marx postulou que a História se repetia, primeiro como tragédia,
depois como farsa. Quem siga os vários telejornais do dia, com o olhar assente
nas lições do passado, não pode deixar de sorrir ao constatar que vivemos de
facto na iminência da tragicomédia. Como se usa dizer – é rir para não chorar.
Profissionais da indignação
Há 3 horas
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